Isolamentos por coronavírus levam a queda recorde no setor de serviços brasileiro em março
Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/SIO DE JANEIRO (Reuters) - As medidas de contenção do coronavírus impactaram com força o setor de serviços do Brasil em março, que apresentou o maior recuo na série histórica diante do isolamento social.
O volume do setor de serviços despencou 6,9% em março na comparação com o mês anterior, no segundo mês seguido de perdas após recuo de 1% em fevereiro.
A leitura de março é a mais fraca já registrada na pesquisa do IBGE, que foi iniciada em janeiro de 2011.
Os dados informados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira mostraram ainda que, em relação ao mesmo período do mês anterior, o setor teve contração de 2,7%, interrompendo sequência de seis taxas positivas.
As expectativas em pesquisa da Reuters eram de contração de 5,8% no mês e de 4,1% no ano.
Com empresas e lojas fechadas e as pessoas isoladas em casa, os impactos do coronavírus se alastram sobre a economia do Brasil. Entretanto, o peso a ser visto em abril deve ser ainda mais forte, dado que os impactos sobre as empresas do setor de serviços foram sentidos principalmente nos últimos dez dias de março, quando começaram as paralisações.
"A perspectiva é de uma queda mais profunda uma vez que o isolamento foi se aprofundando e mais empresas parando. É provável que em abril se observe um aprofundamento da queda atingindo mais atividades e empresas", avaliou o gerente da pesquisa, Rodrigo Lobo
Assim, o movimento de recuperação dos serviços ensaiado no final de 2019 cai por terra, com a epidemia causando fortes incertezas e temores relacionados ao mercado de trabalho.
Todas as cinco atividades pesquisadas tiveram quedas, com destaque para serviços prestados às famílias (-31,2%) e transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio (-9%).
No primeiro caso, foi a queda mais intensa desde o início da série histórica, enquanto que as perdas de transportes só ficaram atrás daquelas registradas em maio de 2018, quando houve a greve dos caminhoneiros.
"Essa queda é motivada, em grande parte, pelas paralisações que aconteceram nos estabelecimentos, sobretudo nos restaurantes e hotéis, que fazem parte dos serviços prestados às famílias", explicou Lobo.
"Outras empresas também sentiram bastante depois do fechamento parcial ou total, como os segmentos de transporte aéreo e algumas empresas de transporte rodoviário coletivo de passageiros", completou.
Entre as outras atividades, o volume de serviços profissionais, administrativos e complementares caiu 3,6%, o de informação e comunicação perdeu 1,1% e outros serviços teve queda de 1,6%.
A queda nos segmentos de hotéis e restaurantes, além de transportes aéreos de passageiros e agências de viagens, impactou o índice de atividades turísticas de março, com queda de 30% em relação a fevereiro — retração mais acentuada desde o início da série histórica, em janeiro de 2011.
O setor de serviços tem forte peso sobre o Produto Interno Bruto, sendo que a expectativa para a economia neste ano na pesquisa Focus do Banco Central é de uma contração de 4,11% como consequência da pandemia de coronavírus.
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