Dólar bate novo recorde com exterior e fatores locais; Credit Suisse vê moeda a R$6,20 no curto prazo
Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar voltou a subir nesta quarta-feira e fechou acima de 5,90 reais pela primeira vez na história, a apenas 1,67% do nível psicológico de 6 reais, em meio a um dia negativo nos mercados externos e com as operações locais de novo afetadas adicionalmente pelo clima de desânimo com a economia e de ruído político.
O dólar à vista fechou em alta de 0,61%, a 5,9012 reais na venda, máxima recorde nominal para um encerramento de sessão.
No pico do dia, a taxa foi a 5,9445 reais, um recorde intradiário.
Como na véspera, o dólar chegou a cair mais cedo, indo a 5,8189 reais, queda de 0,80%. Mas ao fim da primeira hora de negócios a moeda começou a ganhar força, até passar a subir e se manter em alta ao longo do dia, apesar de intervenções do Banco Central via contratos de swap cambial.
Na B3, o dólar futuro tinha alta de 0,10%, a 5,8980 reais, às 17h28, após alcançar 5,9505 reais.
A busca pela segurança da moeda norte-americana ocorreu conforme investidores seguem vendo poucos motivos para trazer de forma maciça capital ao Brasil.
O dia começou com dados de queda nas vendas do varejo em março. Nas contas do Itaú Unibanco, o tombo foi de 13,7% para o varejo ampliado.
Por volta de 10h, declarações do chairman do Federal Reserve, Jerome Powell, foram interpretadas por agentes de mercado como sinais preocupantes para os próximos meses, o que fez ativos de risco piorarem em todo o mundo.
Mas, do lado do câmbio, o real seguiu na ponta de baixo entre seus pares. Analistas notaram a ressurgência de um "trade" bastante comum meses atrás --de "compra de bolsa e de dólar". De fato, empresas exportadoras --que se beneficiam de uma taxa de câmbio mais fraca-- seguraram a pressão de queda da gigante Petrobras e ajudaram o Ibovespa a fechar perto da estabilidade nesta sessão.
A demanda por esses papéis na bolsa evidencia a perspectiva de que o dólar siga em ascensão, diante da combinação de economia em colapso, queda de juros a novas mínimas, deterioração fiscal e renovada incerteza política.
O Credit Suisse chama atenção ainda para intervenções "de forma geral muito limitadas" do Banco Central no mercado de câmbio. Com o dólar escalando a 5,94 reais nesta sessão, o BC vendeu 880 milhões de dólares em contratos de swap cambial tradicional nesta sessão, volume menor que o de muitos dias de abril, quando o dólar estava abaixo dos patamares atuais.
Para o banco suíço, todos os sinais apontam uma piora adicional da percepção dos investidores sobre o real, que, na visão do Credit, depende hoje basicamente de fatores externos para que experimente algum alívio.
"Levando em conta esses riscos, colocamos nossa meta de curto prazo para o dólar em 6,20 reais, bem acima do (mostrado) pelos contratos futuros de três meses, em torno de 5,91 reais", disse o banco em nota a clientes.
O Bank of America também traçou um cenário mais negativo para o real, que deverá depreciar a 5,85 por dólar até o fim do ano (ante projeção anterior de 5,20 reais). O banco justificou a revisão pela "acentuada deterioração do cenário econômico e político nas últimas semanas, bem como a extrema flexibilização monetária".
"Porém, observamos que vários fatores podem facilmente puxar o dólar acima de 6,0 reais no curto prazo: deterioração do apetite global por risco na esteira de dados econômicos negativos; número de casos de Covid-19 no Brasil continuando a acelerar; ou ruído político doméstico", disseram profissionais do banco em nota.
O banco passou a ver contração do PIB de 7,7% neste ano.
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