Bolsonaro cobra Teich sobre cloroquina e tem reunião fora da agenda com ministro
Por Pedro Fonseca e Lisandra Paraguassu
RIO DE JANEIRO/BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro cobrou nesta quinta-feira do ministro da Saúde, Nelson Teich, uma mudança de protocolo da pasta para ampliar a recomendação de utilização do medicamento cloroquina no tratamento da Covid-19, aumentando a pressão sobre o trabalho do ministro, que também enfrenta resistências a seu principal projeto, a definição de diretrizes do distanciamento social.
Teich se ausentou nesta quinta da entrevista coletiva diária da pasta para tratar da situação da pandemia do coronavírus no país pela terceira vez seguida, em meio às cobranças que tem sofrido. De acordo com o Ministério da Saúde, o ministro não participou da entrevista realizada no Palácio do Planalto porque estava reunido com o presidente da República. A reunião não constava previamente na agenda de ambos.
Mais cedo, em uma videoconferência com empresários, Bolsonaro disse estar "exigindo a questão da cloroquina" de Teich, e afirmou que o ministério vai mudar o protocolo adotado na gestão do ministro anterior, Luiz Henrique Mandetta, que recomenda a utilização do remédio apenas em pacientes hospitalizados.
"Votaram em mim para eu decidir. E essa decisão da cloroquina passa por mim. E mais do que pedir... Está tudo bem com o ministro da Saúde, tudo sem problema nenhum com ele, acredito no trabalho ele, mas essa questão vamos resolver. Não pode um protocolo de 31 de março agora, quando estava o ministro da Saúde anterior dizendo que era só em caso grave, a gente não pode mudar protocolo agora? Pode mudar e vai mudar", disse Bolsonaro.
A oposição de Teich a uma determinação do ministério sobre a ampliação do uso da cloroquina levou apoiadores do presidente nas redes sociais a promoverem nas redes sociais as tags "Teichliberacloroquina" e "ForaTeich". O ministro respondeu com publicação no Twitter, citando que a pasta tem protocolos autorizando o uso desde o final de março e acompanha todas as pesquisas sobre medicamentos, mas advertiu que o remédio tem efeitos colaterais.
O ministro inclusive já declarou que a cloroquina não será um "divisor de águas" na pandemia, citando falta de comprovação científica de eficácia contra Covid-19 e os efeitos colaterais.
Além da cobrança sobre a cloroquina, Teich tem trabalhado isolado e não foi sequer consultado por Bolsonaro quando o presidente editou decreto nesta semana que ampliou as atividades consideras essenciais para incluir academias e salões de beleza. "Saiu hoje, foi?", indagou, ao ser avisado pela imprensa na segunda-feira.
SEM DIRETRIZES
Até mesmo em sua principal medida à frente da pasta desde que tomou posse em 17 de abril Teich passou a encontrar dificuldades. As diretrizes do governo federal para auxiliar Estados e municípios a decidirem sobre as medidas de isolamento social deveriam ter sido detalhadas na quarta-feira, mas a apresentação foi cancelada de última hora depois que os conselhos que reúnem secretários estaduais e municipais de Saúde se manifestaram contra por temerem representar um respaldo ao afrouxamento das medidas de isolamento.
Após a demissão de Mandetta por se posicionar publicamente a favor do distanciamento social, contrariando a posição de Bolsonaro, Teich tomou posse dizendo estar alinhado ao presidente, mas recentemente reconheceu a eficácia do distanciamento para conter o avanço da doença e falou inclusive em lockdowns nos locais mais afetados.
O ministro ressaltou diversas vezes que a apresentação das diretrizes não deveria ser interpretada como um posicionamento a favor ou contra o distanciamento, mas sim como uma ferramenta técnica para ajudar governadores e prefeitos a tomarem suas decisões.
Mesmo assim, com os governos estaduais com medidas de distanciamento em vigor para tentar conter o avanço da Covid-19, o ministro não recebeu o apoio dos secretários estaduais de Saúde para a divulgação.
"A mensagem sobre o isolamento social deve ser clara e objetiva. Gerar dúvidas na sociedade sobre sua importância ou mesmo relativizá-la nos parece inadequado", disse a entidade.
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