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Maia se reúne com Bolsonaro e defende retomada do diálogo apesar de divergências

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) - ADRIANO MACHADO
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) Imagem: ADRIANO MACHADO

Da Reuters, em Brasília

14/05/2020 17h12

BRASÍLIA (Reuters) - O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), conversou nesta quinta-feira com o presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto e defendeu que seja retomado o diálogo entre os Poderes e em todas as esferas da administração na busca de uma solução para a crise do coronavírus.

A relação de Maia e Bolsonaro vinha enfrentando um estremecimento, com duros ataques do presidente da República ao deputado, tendo como pano de fundo a disputa pelo apoio do grupo político conhecido como "centrão".

"Acho que o diálogo e a construção de caminhos em conjunto geram uma maior esperança dos brasileiros nesse momento", disse Maia a jornalistas após o encontro com Bolsonaro.

"Os conflitos e as brigas geram insegurança e a perda da confiança da sociedade, já que aqueles que têm a responsabilidade do diálogo e de construção dos caminhos em conjunto estão confrontando."

Segundo o presidente da Câmara, o convite para o encontro partiu há algumas semanas dos ministros da Casa Civil, Walter Braga Netto, e da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos. Maia disse que visitava o gabinete de crise montado para o enfrentamento à crise do coronavírus no Palácio do Planalto quando Bolsonaro chegou e o convidou para um café. A conversa durou cerca de 30 minutos, segundo o deputado.

Imagens do encontro veiculadas por emissores de TV mostram Maia, de máscara de proteção, constrangido ao tentar cumprimentar Bolsonaro à distância, como tem feito com os pares no plenário da Câmara, de onde tem comandado sessões remotas devido às restrições de circulação de pessoas por conta do novo vírus. Bolsonaro, sem máscara, no entanto, parece não perceber a tentativa de cumprimento e abraça de lado o deputado.

"Meu papel, independentemente daquilo que concordo e daquilo de divirjo, meu papel institucional é levar a pauta da Câmara", afirmou Maia na entrevista coletiva pós-encontro.

"Temos, de forma majoritária, essa divergência sobre o momento do isolamento, mas isso não pode nos dividir", argumentou. "Acho que o importante é que todos possam voltar a sentar na mesa e discutir os caminhos", defendeu o deputado, citando como exemplo a necessidade de ampliação do número de testes para detecção de Covid-19.

O abraço de Bolsonaro ocorreu algumas horas após o presidente criticar indiretamente o deputado, sem citá-lo nominalmente, em videoconferência com empresários.

Bolsonaro também chegou a acusar Maia, há pouco menos de um mês, de conduzir o país ao caos e de atuar para tirá-lo da Presidência da República.

Apoiadores do presidente também têm o deputado como alvo preferencial em ataques na internet e também em manifestações nas ruas, que chegam a pedir ainda o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF) e defendem uma intervenção militar.

Maia negou que tenha conversado com o presidente sobre as movimentações do governo para a construção de uma base de apoio no Congresso, e disse que cumpria na conversa seu papel institucional.

As investidas de Bolsonaro junto ao centrão, que incluíram a oferta de cargos, minaram o monopólio político do presidente da Câmara neste grupo, ainda que muitos parlamentares estejam com um pé em cada barco.

Na entrevista após o encontro, o presidente da Câmara voltou ainda a defender as reformas econômica e disse que elas serão ainda mais relevantes na retomada das atividades do país no pós crise, citando especificamente a tributária e a administrativa.

(Reportagem de Maria Carolina Marcello)