Um mês após preço negativo, novo vencimento de contrato do petróleo dos EUA se aproxima
Por Devika Krishna Kumar
(Reuters) - Um mês após vendedores pagarem quase 40 dólares por barril para se livrar de contratos futuros do petróleo nos Estados Unidos, o próximo momento divisor de águas se aproxima, com o vencimento do contrato junho na terça-feira --e até agora, há poucos sinais de que a queda histórica possa se repetir.
O tamanho dos danos causados pela pandemia de coronavírus à indústria do petróleo ficou claro no dia 20 de abril, quando o WTI, valor de referência nos EUA, afundou para menos 38 dólares por barril.
O vírus destruiu a demanda por combustíveis de tal forma, uma vez que bilhões de pessoas deixaram de viajar, que praticamente não havia mais lugares para armazenamento de petróleo. Então, um dia antes de o contrato maio expirar, investidores "presos" com os barris tiveram de pagar para que compradores aceitassem recebê-los.
Um mês depois, governos de todo o mundo flexibilizam lentamente as restrições de movimentação e há sinais de que a demanda vem se recuperando após bater no fundo do poço. Os preços do petróleo, dessa forma, passaram a ensaiar uma recuperação, com o barril nos EUA superando a marca de 30 dólares nesta segunda-feira e atingindo o maior nível desde 16 de março.
À medida que produtores de petróleo do mundo todo reduzem de forma rápida o bombeamento, a pressão sobre o armazenamento diminui: dados divulgados pelo governo norte-americano na última semana indicaram uma queda nos estoques da commodity no país.
"Há claramente um sentimento diferente no mercado do petróleo com a aproximação do vencimento desse contrato, com os cortes de produção sendo aplicados globalmente, seja por meio de acordos, seja de forma unilateral", disse Craig Erlam, analista sênior de mercado da Oanda.
"Mas isso será suficiente para evitar um novo momento de vendas por pânico? As chances diminuíram, com certeza... Há uma linha tênue entre confiança e complacência, e nós só podemos torcer para que essa linha não seja cruzada."
O bom humor foi reforçado depois de o chairman do Federal Reserve (banco central dos EUA), Jerome Powell, divulgar um panorama otimista para a recuperação econômica no final deste ano.
"Supondo que não haja uma segunda onda do coronavírus, acho que você verá a economia se recuperar de forma constante até o segundo semestre deste ano", disse Powell no domingo.
Ainda assim, a Comissão de Negociações de Commodities e Futuros dos EUA, agência federal que supervisiona operações com futuros e opções, emitiu um raro alerta a operadores de bolsas e corretores na última quarta-feira, afirmando que eles precisam proteger os mercados de manipulações e possivelmente intervir para proteger os consumidores.
Desde o "crash" dos preços do petróleo, diversas corretoras e comercializadoras de futuros, incluindo a gigante TD Ameritrade, restringiram as compras de novas posições em alguns contratos da commodity por clientes.
Na semana passada, a Bolsa de Chicago (CME, na sigla em inglês), "casa" dos futuros do WTI, elevou as margens de manutenção do contrato junho em 20%. Isso torna as posições em aberto caras demais para que alguns investidores de pequeno porte do varejo as mantenham antes da expiração.
Questionado sobre as expectativas da CME, um porta-voz disse que a bolsa não especularia sobre a possibilidade de que os preços de qualquer produto passem ao território negativo, e encaminhou à Reuters avisos sobre a capacidade de seus sistemas para acomodar preços negativos.
No mês passado, a CME ordenou que o United States Oil Fund, maior serviço do país com foco no petróleo, limitasse suas posições no contrato junho em não mais do que 10 mil lotes. O fundo emitiu notas a investidores avisando que foi além disso, diversificando suas participações entre os contratos com vencimento em julho, agosto e setembro.
Diante dessas movimentações, o interesse em aberto no contrato junho já está diminuindo, figurando em cerca de 75 mil lotes na última quinta-feira, segundo dados da Refinitiv Eikon. Na quarta-feira eram 135 mil lotes.
No dia 17 de abril, dois dias antes de o contrato maio expirar, o interesse em aberto era de cerca de 108.600 lotes.
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