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Maia diz que falas de Bolsonaro geram insegurança, mas recurso ao STF mostra respeito

28/05/2020 16h08

Por Alexandre Caverni

(Reuters) - O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que as declarações do presidente Jair Bolsonaro na manhã desta quinta-feira geram insegurança, mas ponderou que o fato de o governo ter apresentado um pedido de habeas corpus em favor do ministro Abraham Weintraub ao Supremo Tribunal Federal (STF) representa que a corte foi respeitada.

"De fato as declarações hoje são muito ruins, elas vão exatamente no caminho contrário de tudo que a gente começou a construir, todos os Poderes juntos, desde a semana passada, da reunião com os governadores, do bom diálogo", disse Maia em entrevista coletiva. "As declarações de hoje vão em outro caminho, um caminho que gera insegurança."

Maia destacou, no entanto, que, se de um lado o presidente fez declarações duras contra o STF, ao mesmo tempo o governo, por meio do ministro da Justiça, André Mendonça, apresentou recurso a favor de Weintraub, numa demonstração de respeito ao Supremo, segundo o deputado.

"O que eu acho importante é que o governo recorreu oficialmente, e cabe ao Supremo, agora, decidir sobre o pleito ou não", disse.

Nesta manhã, ao comentar operação da véspera determinada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes contra apoiadores de Bolsonaro por suposto envolvimento em disseminação de fake news, o presidente disse que não haverá mais um dia como ontem. "Acabou, porra!", afirmou.

Na coletiva, Maia lembrou que "qualquer cidadão pode, tendo uma investigação, um inquérito, operações, recorrer da decisão de qualquer ministro do Supremo". O presidente da Câmara destacou, no entanto, que tem que ser pelas normas, pelos caminhos legais. "Não pela forma de tentar intimidar ou acuar um outro Poder sobre as decisões que toma", acrescentou.

Mais cedo, ao ser questionado em uma entrevista a uma rádio sobre temor que a ausência de parlamentares em Brasília por causa do isolamento decorrente da pandemia de Covid-19 ofereça pouca "resistência" a ameaças à "normalidade democrática", Maia disse não acreditar "que chegue a esse ponto".

"Não acredito que chegue a gente esse ponto, de forma nenhuma", disse o deputado à rádio.

"Não acredito que a gente chegue a uma situação extrema como essa", afirmou, acrescentando que as instituições estão funcionando.

Na mesma entrevista, Maia também criticou declaração do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, que sugeriu que haverá uma "ruptura" e cogitou uma "medida enérgica" do pai.

"A frase é muito ruim, muito grave. Nós vamos continuar trabalhando para que as instituições continuem trabalhando de forma independente e tentando ao máximo o diálogo e a harmonia", disse o presidente da Câmara.

Novamente questionado sobre as declarações de Eduardo Bolsonaro na entrevista coletiva no Congresso, Maia disse acreditar "que os militares têm responsabilidade, sabem o seu papel".

"Sabem que o seu papel não é o papel que é muitas vezes defendido pelo deputado Eduardo Bolsonaro", disse.

Maia reforçou mais uma vez o valor da democracia e a importância da independência dos Poderes e a busca do diálogo.

"Não tem nada mais importante que a nossa democracia. E a nossa democracia sai da base óbvia, que nós temos que respeitar cada um dos Poderes, principalmente a sua independência e o seu diálogo harmônico entre os três Poderes", afirmou.

"Qualquer frase mal colocada, como a de hoje pela manhã, vai esgarçando as relações, vai estressando as relações. O que eu peço, o que eu espero, e fiz esse discurso esta semana, que nós possamos voltar ao caminho do diálogo, do respeito institucional."

Fontes ouvidas pela Reuters disseram que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), se reuniu com Bolsonaro nesta tarde para tentar acalmar o presidente.