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Desmatamento da Amazônia cai em julho, mas sobe em 12 meses

07/08/2020 12h18

Por Eduardo Simões

SÃO PAULO (Reuters) - O desmatamento na Floresta Amazônica registrou queda de 26,7% em julho na comparação com o mesmo mês do ano passado, mas subiu 34,5% no acumulado em 12 meses, se comparado com o mesmo período anterior, mostraram dados preliminares do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) nesta sexta-feira.

Em julho, o sistema Deter, do Inpe, que alerta sobre avisos de desmatamento na floresta em tempo real, apontou 1.654 quilômetros quadrados de área devastada no mês passado, contra 2.255 quilômetros quadrados registrados em julho de 2019, mostraram os números publicados no site do instituto.

No acumulado entre agosto de 2019 e julho de 2020, no entanto, a área desmatada foi de 9.205 quilômetros quadrados, um aumento em relação aos 6.844 quilômetros quadrados registrados entre agosto de 2018 e julho de 2019.

O período entre agosto de um ano e julho do ano seguinte é considerado como o ano-calendário para a medição anual do desmatamento da Amazônia e também é o período usado pelo sistema Prodes, do Inpe, mais preciso que o Deter e adotado na aferição do desmatamento da floresta em 12 meses.

Os dados em 12 meses do Deter mostram que os números do Prodes, que geralmente são divulgados em novembro, devem apontar nova alta no desmatamento da Amazônia, em meio à pressão crescente de ambientalistas e também de investidores estrangeiros sobre a política ambiental do presidente Jair Bolsonaro.

Em 2019, enquanto que o Deter apontou desmatamento de 6.844 quilômetros quadrados entre agosto de 2018 e julho de 2019, o desmatamento mostrado pelo Prodes no mesmo período, anunciado em novembro do ano passado, foi de 9.762 quilômetros quadrados, o maior em mais de uma década.

Em nota, o Observatório do Clima disse que os dados do Deter indicam que o número do Prodes, a ser anunciado no final do ano, devem chegar a um desmatamento da ordem de 13 mil quilômetros quadrados. Se confirmado, este número representará o maior desmatamento desde 2006 e três vezes maior do que a meta da Política Nacional de Mudança do Clima para 2020.

"Será também a primeira vez na história que o desmatamento na Amazônia terá duas altas seguidas na casa dos 30%", disse o Observatório em nota."Isso não acontece por incompetência do governo no combate à devastação; acontece porque a agenda do governo Bolsonaro é promover ativamente a devastação. Não é inépcia, é projeto", criticou.

QUEDA MENSAL

Bolsonaro tem sido criticado por ambientalistas por adotar um discurso que defende a exploração de atividades econômicas na Amazônia, como a legalização do garimpo na região, e por medidas que, na visão de críticos, enfraqueceram os órgãos de fiscalização.

Diante das pressões decorrentes do aumento do desmatamento e também da elevação das queimadas na Amazônia, Bolsonaro editou um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para que as Forças Armadas atuem no combate ao desmatamento na região e também colocou o vice-presidente Hamilton Mourão no comando do Conselho da Amazônia, responsável por articular medidas para a floresta.

No entanto, o próprio vice-presidente já admitiu que a GLO, que atua na região desde maio, não teve ter efeito no desmatamento este ano. Segundo Mourão, a operação deveria ter começado em dezembro do ano passado para trazer resultados visíveis na taxa de 2020.

"Eu falei que começamos atrasado, então o ciclo que começou em agosto de 2019 e fechou em julho de 2020, ele tem um aumento. Agora, nosso propósito é o que começa agora em agosto de 2020 e termina em julho de 2021, essa é a que nos comprometemos que haja redução significativa", disse Mourão nesta sexta ao comentar o aumento no período.

O vice-presidente, por outro lado, procurou destacar que a queda do desmatamento em julho indica que a atuação das Forças Armadas vem surtindo efeito.

"Houve uma inversão da tendência, tínhamos há mais de um ano uma tendência de aumento do desmatamento e, pela primeira vez, a gente tem a inversão da tendência", disse Mourão a jornalistas em Brasília.

"Significa que as ações da operação Verde Brasil 2 e mais o trabalho psicológico que a gente vem fazendo, de conscientização junto às pessoas que moram nas regiões que estão mais afetadas pelo desmatamento começa a dar efeito. Ainda é começo, a gente tem que prosseguir até chegar nas metas que nós temos que é colocar o desmatamento dentro do mínimo aceitável."

Já o secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, rejeita a tese de que a queda do desmatamento em julho indica sucesso das Forças Armadas no combate ao desmatamento.

"O que o governo está tentando fazer analisando apenas um mês, o mês de julho, é tirar a visão do contexto da análise profunda do que está acontecendo na floresta e usar dados isolados para tentar criar uma narrativa", disse.

"O governo está dizendo que houve uma melhora numa comparação com um mês que foi o pior da série histórica, que foi julho de 2019, o que não faz o mês de julho de 2020 ser um mês bom. Muito pelo contrário, ele continua sendo um mês horroroso e um mês que provoca muita preocupação", disse Astrini.

(Reportagem adicional de Lisandra Paraguassu e Anthony Boadle, em Brasília)