Serviços voltam a crescer no Brasil em junho após 4 meses, mas estão longe de nível pré-Covid
Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - O volume de serviços do Brasil voltou a aumentar em junho depois de quatro meses de quedas diante do afrouxamento do isolamento social para contenção do coronavírus, mas ainda está distante de retornar aos níveis pré-pandemia e destaca a dificuldade de recuperação do setor.
O setor de serviços apresentou em junho avanço de 5,0% sobre maio, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira. O resultado, entretanto, fica longe de recuperar as perdas acumuladas de 19,5% dos quatro meses anteriores.
Com isso, o segundo trimestre terminou com queda de 15,4% sobre os três meses anteriores. Nos três primeiros meses do ano as perdas foram de 3%.
Destacando ainda mais os impactos das medidas de isolamento sobre um dos principais setores da atividade econômica, o volume de serviços apresentou recuo de 12,1% em relação ao mesmo mês do ano passado, quarta taxa negativa.
Além disso, mesmo com o resultado mensal de junho sendo o segundo mais alto da série iniciada em janeiro de 2011, o volume de serviços ficou 14,5% abaixo do patamar registrado em fevereiro, último mês antes da implementação das medidas contra a Covid-19.
"Diferente do comércio, em que a taxa já faz um V e recupera perdas da pandemia, serviços ainda mostram um distanciamento longo para voltar aos níveis de fevereiro", destacou o gerente da pesquisa, Rodrigo Lobo.
Segundo Lobo, para o setor de serviços recuperar o patamar de fevereiro, seria necessário registrar um crescimento de 17%. "Lá atrás o setor levou 3 anos para crescer 14,5%", alertou.
"Não consigo imaginar serviços recuperando na mesma velocidade do comércio. Vai ser necessário prazo mais longo", completou.
As expectativas em pesquisa da Reuters eram de avanço de 4,4% no mês e de queda de 14,2% no ano.
Vale destacar que os efeitos da pandemia sobre a atividade de serviços começaram a ser sentidos nos últimos 10 dias de março, acumulando retração de 18,6% entre março e maio. O recuo de 1,0% visto em fevereiro é considerado conjuntural pelo IBGE, refletindo uma acomodação frente ao fim de 2019.
TRANSPORTES
Em junho, todas as cinco atividades pesquisadas apresentaram ganhos. Os destaques foram os avanços de 6,9% em transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio e de 3,3% de serviços de informação e comunicação.
“Entre os segmentos do setor (de transportes) que tiveram crescimento esse mês estão transporte rodoviário de carga, transporte aéreo de passageiros e operação de aeroportos. Com isso, o setor de transporte teve o aumento mais intenso desde junho de 2018”, disse Lobo.
Já o volume de serviços profissionais, administrativos e complementares aumentou 2,7%, o dos serviços prestados às famílias subiu 14,2% e de outros serviços teve alta de 6,4%.
De acordo Lobo, um dos principais segmentos que contribuíram para o resultado de junho foi o de restaurantes. Mas o mais distante do nível pré-pandemia é o de serviços prestados às famílias, que precisariam registrar um aumento de 105,2% para isso.
"Com a flexibilização, ou seja, com o aumento do fluxo de pessoas nas cidades brasileiras, (os restaurantes) começaram a abrir e a receita do segmento voltou a crescer, impactando o volume de serviços de junho”, explicou Lobo.
O índice de atividades turísticas apresentou crescimento de 19,8% em junho rente ao mês imediatamente anterior, segunda taxa positiva seguida. Nesses dois meses o ganho acumulado foi de 28,1%, mas isso depois de despencar 68,1% entre março e abril devido às medidas de contenção ao coronavírus.
Segundo a pesquisadora sênior da área de economia aplicada do Ibre/FGV, Silvia Matos, o desempenho do setor de serviços e do emprego é o que vai determinar uma recuperação efetiva da economia brasileira no pós-pandemia.
O governo estima que o PIB vai contrair 4,7% este ano, no que seria o pior resultado da série história que começou em 1900.
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