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Bolsonaro diz que imprensa não está do lado da verdade e da lei em discurso para PMs no Rio

18/12/2020 11h24

Por Rodrigo Viga Gaier

RIO DE JANEIRO (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro usou um discurso durante formatura de policiais militares no Rio de Janeiro para atacar a imprensa e afirmar, sem apresentar provas ou entrar em detalhes, que os jornalistas não estão "ao lado da verdade, da honra e da lei" e que são contrários aos policiais.

A incitação do presidente contra a imprensa acontece no mesmo dia em que a revista Época publicou uma entrevista com a advogada Luciana Pires, que representa o filho mais velho do presidente, senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), na qual afirma que o chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, lhe fez recomendações na tentativa de anular um inquérito em que o parlamentar é investigado por supostamente ter desviado dinheiro do salário de assessores quando era deputado estadual no Rio de Janeiro.

Os ataques aos jornalistas ocorrem também no mesmo dia em que a revista Crusoé também traz matéria sobre o suposto auxílio da Abin, um órgão de Estado ligado ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República ao filho do presidente.

"Não se esqueçam disso: essa imprensa jamais estará do lado da verdade, da honra e da lei", disse Bolsonaro se dirigindo aos PMs recém-formados em um discurso exaltado durante a cerimônia na qual o senador Flávio Bolsonaro também estava presente e chegou a discursar, em uma quebra do protocolo. Em sua breve fala, o senador fez uma defesa de policiais e de militares.

Bolsonaro reclamou que, o que chamou de boas iniciativas de seu governo, não têm o reconhecimento da imprensa e defendeu que os policiais recorram às redes sociais para se informarem.

"Não esperemos da imprensa a verdade! Jamais ela estará do lado deles... somos persistentes e perseguiremos a verdade e sempre estaremos ao lado da verdade e da lei e de homens de bem e não de canalhas", frisou o presidente ao citar os bilhões de reais gastos com o auxílio emergencial durante a pandemia de Covid-19.

"Contamos com o povo maravilhoso e a liberdade das mídias sociais, que essas sim trazem a verdade para vocês. Uma fábrica de fake news está em grande parte da imprensa brasileira. Isso é uma vergonha para o mundo", atacou.

Um dia após o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir pela obrigatoriedade da vacina contra Covid-19, contrariando posição que vem frequentemente sendo defendida por Bolsonaro, o presidente também disse em seu discurso que o principal poder do Brasil é o povo.

"Jamais a nossa democracia e nossa liberdade serão ameaçadas por quem quer que seja. Entendam uma coisa: os três Poderes são independentes e harmônicos, mas o maior poder é do povo brasileiro", afirmou.

(Reportagem adicional de Eduardo Simões, em São Paulo)