Dólar abandona queda e salta 1% com noticiário político-fiscal; volatilidade dispara
Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O alívio no mercado de câmbio no dia seguinte à decisão de juros durou pouco, e o dólar fechou em firme alta nesta quinta-feira, com o real indo do melhor desempenho global para o pior diante de uma nova onda de aversão a risco no Brasil, causada por renovadas preocupações fiscais.
O dólar à vista subiu 1,00%, a 5,364 reais na venda. A moeda variou entre queda de 1,49% pela manhã, para 5,2318 reais, e ganho de 1,71%, a 5,4015 reais, à tarde.
A volatilidade disparou. A volatilidade implícita nas opções de dólar/real para três meses --uma medida do grau de incerteza sobre a trajetória para a taxa de câmbio-- bateu 19,6% ao ano, de 18,8% do fechamento da véspera, rondando os maiores níveis desde outubro do ano passado. O real é a moeda mais volátil dentre as principais divisas emergentes.
A reviravolta no câmbio vista a partir do fim da manhã refletiu forte reação do mercado a declarações do candidato à presidência do Senado Federal Rodrigo Pacheco (DEM-MG). O senador, apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, disse que haverá discussão sobre nova ajuda a famílias na primeira semana do novo comando do Congresso e que será preciso sacrifício de premissas econômicas para manter o socorro às famílias.
Pacheco tentou, sem sucesso, acalmar os ânimos de investidores em entrevistas posteriores. À Reuters, ele afirmou que em primeiro lugar é preciso ter responsabilidade fiscal e obediência ao teto de gastos e que apenas em último caso se pode rompê-lo para ajudar pessoas na pandemia.
O agravamento da crise sanitária em meio à percepção de desorganização no governo tem tido efeitos sobre a popularidade do presidente Bolsonaro e, por sua vez, alimentado temores no mercado de criação de mais despesas --o que ameaçaria o teto de gastos, visto pelo mercado como âncora fiscal do país.
"Claramente há uma falta de orientação e clareza na mensagem. Gravíssimo para a ancoragem fiscal e até política. Não tem como não ter efeitos", disse o profissional de um banco estrangeiro.
À tarde, o deputado Arthur Lira (PP-AL) --que disputa a presidência da Câmara dos Deputados e, assim como Pacheco, é apoiado por Bolsonaro-- disse no Twitter que "qualquer discussão sobre eventual auxílio emergencial adicional deve ser feita de forma responsável e acompanhada do aprofundamento de reformas que viabilizem a consistência fiscal de médio e longo prazos no Brasil".
Para Alfredo Menezes, sócio na Armor Capital, o mercado está envolto em muita insegurança com o cenário econômico e, nesse contexto, o momento é de aguardar, especialmente considerando a forte volatilidade.
"Pessoalmente, acho que o dólar pode ficar no mínimo em 4,85 reais e, no máximo, em 5,95 reais. O cenário é binário. Virou preto ou vermelho", afirmou.
O profissional do banco estrangeiro citado antes comentou que mesmo a interpretação do comunicado do Copom foi dispersa entre analistas. Segundo ele, há quem tenha entendido que o Bacen, por não aumentar o juro agora nem sinalizar alta na reunião de março, "vai incorrer no risco de mais depreciação do real".
Para o Santander Brasil, o real corre risco de depreciar mesmo com a perspectiva de alta da Selic. "O viés de Selic mais alta seria num contexto cauteloso, com maior dificuldade fiscal e maior dificuldade no processo de enfrentamento da pandemia via vacinas, com riscos em torno do acesso" ao imunizante", disse Mauricio Oreng, superintendente de pesquisas macroeconômicas do Santander.
Enquanto isso, o investidor estrangeiro continua "muito reticente" com o Brasil e não há no curto prazo perspectiva de retorno consistente de fluxos externos, disse Drausio Giacomelli, estrategista-chefe para mercados emergentes do Deutsche Bank, que vê o real em uma "montanha-russa".
"Você supera a tensão no segundo trimestre, mas depois elas ressurgem no fim do ano com as discussões sobre o Orçamento e o teto de gastos. No fim, o dólar deve fechar o ano em 4,80 reais", afirmou.
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