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Com popularidade em queda, Bolsonaro é convencido a mudar tom sobre vacinas

18.dez.2020 - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante cerimônia de formatura de soldados da PM, no Rio de Janeiro - Alexandre Neto/Photopress/Estadão Conteúdo
18.dez.2020 - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante cerimônia de formatura de soldados da PM, no Rio de Janeiro Imagem: Alexandre Neto/Photopress/Estadão Conteúdo

Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito

26/01/2021 20h14

A decisão do presidente Jair Bolsonaro de mudar o discurso, adotado por meses, e passar a defender a vacinação contra Covid-19 para ajudar na retomada da economia foi fruto de um trabalho de convencimento do ministro da Economia, Paulo Guedes, e de outros integrantes do governo, e comemorada pela equipe do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disseram à Reuters fontes com conhecimento do assunto.

Em uma conferência a investidores mais cedo nesta terça-feira, Bolsonaro fez uma defesa enfática da vacinação.

"Já somos o sexto país que mais vacinou no mundo. Brevemente, estaremos nos primeiros lugares, para dar mais conforto à população, segurança a todos e de modo que a nossa economia não deixe de funcionar", disse ele.

Na verdade, de acordo com o site Our World in Data, que tem acompanhado a aplicação de vacinas no mundo, o Brasil é, com pouco mais de 700 mil doses aplicadas, o 13º no mundo. Já na comparação por 100 habitantes, é o 18º.

A despeito da falta de precisão, nos últimos meses, o presidente sempre falava —de forma evasiva— que iria garantir vacina para todos, mas sempre fazendo questão de ressalvar que ela seria voluntária e enfatizando que ele próprio não tomaria o imunizante.

Ele chegou a falar também que "menos da metade" da população iria se vacinar e menosprezou a eficácia da CoronaVac, vacina da chinesa Sinovac, que começou a ser envasada e será produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, ligado ao governo paulista, que virou o principal imunizante no Programa Nacional de Imunizações (PNI).

Nos bastidores, segundo uma fonte, o presidente foi convencido por Guedes e outros integrantes do governo a modular o discurso. O titular da Economia, que já vinha defendendo vacinação em massa antes de tirar férias, defendeu a Bolsonaro que ele tinha de fazer um discurso nessa linha a investidores e também apoiar o pleito de empresários que querem comprar imunizantes contra Covid-19.

No entorno de Pazuello, a mudança de tom presidencial foi bem recebida no momento em que o país deu largada há uma semana no programa de vacinação contra a doença, segundo outra fonte. "Foi ótimo o discurso", disse.

O governo Bolsonaro foi pressionado por governadores e prefeitos a acelerar a vacinação contra Covid-19. Em um dado momento, mesmo diante de mais de 40 países já tendo iniciado a imunização, chegou a estimar que a vacinação só começaria em março.

Contudo, antecipou o processo após o movimento do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), potencial adversário de Bolsonaro na sucessão de 2022, que prometia iniciar a vacinação em São Paulo no dia 25 de janeiro, antes do governo federal.

No final, Doria conseguiu a foto da primeira pessoa vacinada no país no dia 17, mas o governo federal a essa altura já tinha incorporado a CoronaVac ao PNI e iniciou a vacinação nacional no dia seguinte.

Em meio a isso, ocorreu também a recente queda de popularidade do presidente registrada por institutos de pesquisa e um aumento na pressão, ainda que sem grande apelo popular, por uma abertura de um processo de impeachment contra ele no Congresso Nacional —nesta terça, foi a vez de lideranças religiosas apresentarem novo pedido ao Legislativo.

Aliados de Pazuello acreditam que a mudança de tom de Bolsonaro poderá ajudar na massificação das vacinas no país e avaliam que, dessa forma, vão conseguir reverter avaliações negativas do governo no enfrentamento da pandemia, disse a fonte.

O governo lançou uma campanha publicitária nos meios de comunicação para incentivar a vacinação contra Covid-19. No momento, o principal grupo prioritário na vacinação são profissionais de saúde, idosos e indígenas, sob determinadas circunstâncias.

A aposta do governo, segundo a fonte, é que a virada vai ocorrer no momento em que o registro definitivo das vacinas for autorizado pela Anvisa —até o momento nenhum laboratório requisitou— e se atingir as condições para se fabricar no país 30 milhões de doses por mês para aplicar na população, conforme projeções já feitas publicamente por Pazuello.

O ministro da Saúde, aliás, tem como desafio adicional lidar com o colapso no enfrentamento ao Covid-19 em Manaus, para onde retornou no final de semana. Na véspera, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a abertura de inquérito contra Pazuello pela atuação no enfrentamento à pandemia na capital do Amazonas, atendendo a pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras, por provocação de oposicionistas.

Na equipe do titular da Saúde, entretanto, a investigação por suposta omissão de Pazuello não preocupa, segundo essa fonte, porque a avaliação é que toda a atuação no Estado e na capital manauara está documentada e que o governo federal atuou de forma auxiliar aos poderes locais.