Quem estiver comprando coisas da Petrobras é melhor ter medo, diz Lula
Por Leonardo Benassatto e Lisandra Paraguassu
SÃO BERNARDO DO CAMPO/BRASÍLIA (Reuters) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva alertou nesta quarta-feira que as empresas que estão "comprando coisas da Petrobras" deveriam ficar com medo, porque muito pode ser mudado caso o PT volte ao governo.
Ao ser questionado sobre a reação do mercado à possibilidade de que agora, livre de condenações em segunda instância, ele possa ser candidato à Presidência em 2022, Lula lembrou que o mercado conviveu com ele durante 8 anos no governo e mais seis anos da ex-presidente Dilma Rousseff. Segundo ele, durante todo esse período o país tinha previsibilidade e credibilidade.
"O que o mercado quer? Quer ganhar dinheiro com investimento em coisas produtivas? Tem que gostar de mim. Agora, se o mercado quiser ver às minhas custas vendendo patrimônio nacional tem que ter medo de mim sim", disse. "Quem tiver comprado coisas da Petrobras é melhor ter medo mesmo porque podemos mudar muita coisa."
Lula defendeu ainda as empresas estatais e se disse contrário a privatizações, além de criticar a independência do Banco Central, aprovada no mês passado pelo Congresso. "É melhor o BC estar na mão do governo do que estar na mão do mercado", afirmou.
Ao mesmo tempo, o ex-presidente fez acenos ao centro e ao próprio mercado. Afirmou que tem diferenças com a Federação Nacional dos Bancos (Febraban) e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), mas que sempre esteve disposto a conversar e não vê razões para terem medo dele.
"Não tenham medo de mim. Eu sou radical porque quero ir à raiz dos problemas", disse, completando: "Eu era chamado de conciliador quando governava."
Lula desdenhou, ainda, do chamado "risco de polarização" apontado pelo mercado como um dos problemas de um eventual cenário Lula x Bolsonaro nas eleições de 2022.
"O PT polariza desde 1989. Isso significa que o PT é muito grande, não pode deixar de polarizar", disse o ex-presidente, lembrando que o partido esteve em primeiro ou segundo lugar em todas as eleições desde 1989.
Segundo Lula, o que não pode acontecer é casos como o que chamou de "erro do PSDB", que resistiu a reconhecer o resultado das eleições de 2014. "Aquilo deu em Bolsonaro", afirmou.
Na segunda-feira, depois que o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), anulou as condenações impostas a Lula no âmbito da Lava Jato, o Ibovespa fechou em forte queda e o dólar teve alta ante a perspectiva do petista disputar a eleição de 2022.
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