Governo ainda avalia sucessão de Pazuello; Hajjar rejeita convite
Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O governo federal ainda procura um substituto para o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, apesar das negativas da equipe do ministro de que ele vá sair, e entre os nomes cotados a médica Ludhmila Hajjar afirmou nesta segunda-feira que rejeitou o convite alegando “principalmente motivos técnicos”.
Hajjar declarou-se contra o tratamento defendido pelo presidente Jair Bolsonaro com medicamentos como cloroquina e ivermectina, e a favor de medidas de isolamento --duramente criticadas por Bolsonaro-- para deter o avanço da Covid-19 no país, que enfrenta o pior momento da pandemia.
"Fiquei muito honrada pelo convite do presidente Bolsonaro. Tivemos dois dias de conversa, mas, infelizmente, acho que esse não é o momento para que eu assuma o ministério", disse Hajjar em entrevista à CNN Brasil.
Questionada sobre as razões que a levaram a negar o convite, afirmou que foram "principalmente por motivos técnicos".
"Eu sou médica, sou uma cientista, sou uma especialista em cardiologia e unidade de terapia intensiva. Toda a minha expectativa em relação a pandemia, o que eu vi, o que eu aprendi, está acima de qualquer ideologia, de qualquer expectativa que não esteja pautada em ciência", afirmou.
Sem Hajjar, o governo segue a busca por um substituto para Pazuello, depois que a saída do general foi acertada em uma reunião na noite de sábado entre os ministros militares e o presidente no Hotel de Trânsito do Exército, onde Pazuello vive, segundo uma fonte ouvida pela Reuters.
O acordo foi negado depois pelo Ministério da Saúde, mesmo com o Palácio do Planalto confirmando o encontro entre Hajjar e Bolsonaro no domingo à tarde, no Palácio da Alvorada.
No Congresso, parlamentares do centrão aliados do governo cobram uma mudança na Saúde em meio ao pior momento da pandemia no Brasil, com média de mortos por dia se aproximando de 2.000 na semana passada, e outros nomes começam a circular para assumir a pasta.
De acordo com uma fonte parlamentar, ainda se fala no nome do médico cardiologista Marcelo Queiroga para satisfazer a necessidade de um nome técnico. No Congresso, no entanto, a pressão é pelo deputado Dr. Luizinho (PP-RJ), ortopedista que já foi secretário de Saúde do Rio de Janeiro.
Voltou a circular também o nome do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), que foi ministro da Saúde no governo de Michel Temer. Barros nega ter interesse no cargo.
Nesta segunda, Pazuello foi convocado pela comissão temporária do Senado que acompanha as ações contra a Covid-19 para apresentar esclarecimentos sobre diversos aspectos do enfrentamento à pandemia.
"FALTOU CONFLUÊNCIA"
O nome de Hajjar foi levado a Bolsonaro por diversos parlamentares, como o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), para substituir Pazuello.
Segundo contou a médica, ela recebeu um telefonema no sábado com um convite para vir a Brasília conversar com Bolsonaro. O encontro aconteceu no domingo, com a presença de Pazuello.
"No sábado eu recebi um telefonema do presidente me convidando para vir aqui para discutir o assunto Ministério da Saúde. Ontem nós conversamos por quatro horas com o ministro Pazuello sobre como seria uma eventual gestão minha à frente do ministério, discutimos alguns pontos e hoje (segunda) na reunião eu recusei o convite", contou Hajjar.
Apesar da defesa do nome da cardiologista por ministros e por Lira, que chegou a escrever uma nota em apoio a ela em sua conta no Twitter, a reação da ala ideológica do governo e dos apoiadores mais radicais de Bolsonaro foi rápida e agressiva.
Rapidamente surgiram perfis falsos de Hajjar nas redes sociais com informações inventadas. Foram encontrados e usados contra a médica um vídeo em que ela manda um beijo para a então ex-presidente Dilma Rousseff. Um outro áudio, falso, em que ela ofenderia o presidente também circulou nas redes. Assessores próximos de Bolsonaro chegaram a retuitar - e depois apagaram - tuítes com informações falsas contra a médica.
Hajjar diz que os ataques não foram decisivos para sua recusa e que não tem medo, mas confessou que ficou assustada com a virulência dos ataques que sofreu em apenas um dia como possível ministra. Ela contou que tentaram invadir seu quarto de hotel duas vezes, espalharam seu celular em diversos grupos de mensagens e que foi ameaçada de morte.
Ao ser questionada sobre o que Bolsonaro disse sobre mudanças no tratamento da epidemia e o que faltou para que pudesse assumir o ministério, Hajjar revelou que ele não foi claro, mas centrou sua preocupação na queda no desempenho econômico do país.
"Acho que faltou uma confluência de ideias, faltou entrarmos em linhas de convergência. Acho que presidente ficou muito preocupado de a minha gestão não agradar alguns grupos e ao mesmo tempo sofrer muitos ataques de outros", afirmou.
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