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Vale deveria parar sua maior operação para combater covid, dizem entidades

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Logo da Vale Imagem: WASHINGTON ALVES

Marta Nogueira

24/03/2021 18h44

Representantes da sociedade civil pediram à Vale que paralise temporariamente suas operações de minério de ferro em Parauapebas, município paraense onde está a principal unidade da mineradora, como forma de frear o contágio do coronavírus na região, apontaram autoridades e documentos visto pela Reuters.

O município, de cerca de 210 mil habitantes, localizado na região da Serra de Carajás, onde está a maior operação de minério de ferro a céu aberto do mundo, entrou em lockdown de sete dias no último domingo, após um "colapso" no sistema de saúde devido a um crescimento exponencial dos casos de Covid-19.

"Estamos com tudo lotado no sistema de saúde, mas conseguindo circular pacientes... não queria fazer o lockdown, mas não teve jeito", disse à Reuters Darci Lermen, prefeito de Parauapebas.

Embora a cidade que é lar de milhares de funcionários da operação da Vale na Serra Norte de Carajás esteja em lockdown, as atividades de mineração não pararam, uma vez que essa indústria é considerada essencial por decreto federal.

A mina situada na área de Parauapebas produziu cerca de 109 milhões de toneladas de minério de ferro em 2020, ou mais de um terço da produção total da Vale no ano passado.

Os pedidos de paralisação das atividades da Vale foram feitos pela subseção Parauapebas da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e pela Associação Médica de Carajás (AMC), segundo documentos vistos pela Reuters, com datas de terça-feira.

"Realmente a situação aqui já colapsou. Não temos leitos de UTI vagos. A mineração é a atividade preponderante aqui e considerada essencial. Então apesar do lockdown decretado pelo prefeito, a movimentação de trabalhadores da mineração é constante", disse a presidente da OAB local, Maura Regina Paulino.

A cidade tem apresentado mais de 200 novos casos por dia, desde de 15 de março, com exceção de 23 de março quando houve 140 novos casos, segundo dados da prefeitura, que registrava apenas cerca de 60 novos doentes ao dia um mês atrás. No total, a cidade, que registra grande número de testagens, teve mais de 42 mil contaminados pelo coronavírus desde o início da pandemia e 258 óbitos.

Enquanto isso, as taxas de ocupação de enfermaria e UTI do SUS estão com 100% de ocupação. As UTIs particulares também estão completamente lotadas. Já as enfermarias particulares têm taxa de ocupação de 94%.

O conselheiro estadual e coordenador regional da comissão de assuntos minerários da OAB Pará, Rubens Moraes Júnior, disse à Reuters que a Vale já respondeu o ofício e marcou uma reunião com a entidade na sexta-feira.

"De nada adianta os médios e pequenos empresários serem obrigados a fechar e a grande empresa não", disse Moraes Júnior.

Já o presidente da Associação Médica de Carajás, Maryel Vieira Mendes, disse à Reuters que ainda aguarda um retorno da Vale.

"Creio que deve reiterar os esforços em dar suporte aos municípios na assistência aos doentes, porém se isso representa jogar água na fogueira, ela segue também no lado oposto, colocando lenha e não contribuindo com o corte na cadeia de transmissão. Parauapebas está em lockdown, mas a Vale segue atuando normalmente", disse Mendes.

Procurada, a Vale não comentou especificamente sobre os ofícios das entidades.

Em resposta à Reuters, disse que tem reforçado as medidas severas adotadas desde o início da pandemia para a prevenção do coronavírus nas localidades onde atua.

Segundo a Vale, o pacote de ações preventivas inclui a "redução drástica" do efetivo administrativo e operacional nas suas unidades, além de triagem diária, protocolos para distanciamento social, higienização, uso de máscaras e testagem em massa —já foram realizados mais de 1,2 milhão de testes entre empregados próprios e terceiros no Brasil.

A empresa disse ainda que segue apoiando toda a coletividade através de doações aos entes públicos, nas três esferas, de respiradores, máscaras, álcool gel, seringas descartáveis entre outros itens.

Em Parauapebas, a Vale está investindo 2,5 milhões de reais em reforma no Hospital Geral de Parauapebas, cujas obras devem ser concluídas em abril, dentre outras ações. Com a iniciativa, o município contará com 28 leitos críticos e 40 leitos de enfermaria para atendimento de Covid-19.

Antes, a companhia renovou contrato com o Instituto ACQUA para a contratação de profissionais de saúde que estão atuando nos 40 leitos para atendimento de pacientes com sintomas do novo coronavírus, sendo 15 leitos críticos e 25 de enfermaria. O espaço, que foi reformado e ampliado pela Vale em 2020, já recebeu mais de 130 pacientes.

A Vale afirmou ainda que as ações de combate ao coronavírus não estão impactando a produção.