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Idosos encaram "sacrifício" por vacina com fila e aglomeração em Duque de Caixas

Fila de vacinação na Praça do Pacificador, em Duque de Caxias - Reprodução/TV Globo
Fila de vacinação na Praça do Pacificador, em Duque de Caxias Imagem: Reprodução/TV Globo

Pedro Fonseca, Rodrigo Viga Gaier e Sebastian Rocandio

30/03/2021 18h57

RIO DE JANEIRO (Reuters) - Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, teve mais uma vez longas filas de idosos em busca da primeira dose da vacina contra Covid-19, um retrato da escassez de vacinas e alta demanda por imunizantes que têm marcado a lenta campanha de vacinação contra a Covid-19 no Brasil.

De quase 46 milhões de doses prometidas inicialmente pelo Ministério da Saúde para o mês de março, foram entregues apenas 22 milhões, mediante atrasos na produção da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), dificuldades na importação de doses prontas e entraves na aprovação regulatória de imunizantes.

"Depois desse sacrifício todo, nesse sol, vamos ver se a gente consegue, mas está difícil, está bastante desorganizado", disse a aposentada Ira Salazar, na segunda-feira, quase no final de uma longa fila com centenas de pessoas em um dos pontos de vacinação da cidade de quase 1 milhão de habitantes.

A vacinação em Caxias tem sido marcada por problemas desde o início, com longas filas e falta de doses. O prefeito Washington Reis (MDB) chegou a abrir a vacinação para todas as pessoas com mais de 60 anos, apesar de ter em estoque menos de 10 mil doses para um público estimado em cerca de 100 mil pessoas.

Após uma determinação do Ministério Público, a campanha foi suspensa temporariamente e agora foram convocadas as pessoas acima de 65 anos — o que reduziu o público-alvo, mas não evitou as longas filas e a consequente aglomeração de pessoas.

"A falta de organização em Caxias é desde sempre. As pessoas estão sendo maltratadas aqui nessa campanha", disse a diarista Rosângela Silva, moradora da cidade.

Procurada, a Prefeitura de Duque de Caxias informou que a vacinação "segue normal" na cidade e que as filas ocorrem porque muitos idosos chegam com "muita antecedência" aos quatro pontos de vacinação para garantir a dose do imunizante.

A escassez de doses tem sido responsável, em parte, pelo pior momento da pandemia no país, com quase 2.600 mortes por dia em média nos últimos sete dias.

A campanha de imunização é lenta desde o início e janeiro. De acordo com o Ministério da Saúde, 14 milhões de pessoas foram vacinadas com a primeira dose no país, o equivalente a 6,6% da população brasileira.

Pela promessa original do Ministério da Saúde, em março o país teria doses suficientes para vacinar 22% da população com a primeira dose.

A maior frustração de expectativas foi na produção da Fiocruz, que é responsável pelo envase da vacina de Oxford/AstraZeneca. Ao contrário de mais de 19 milhões de doses do imunizante prometidas originalmente pelo ministério para março, foram entregues até o momento 1,8 milhão. Mais 2,4 milhões estão previstos para esta semana.

Segundo a Fiocruz, o atraso ocorreu devido à própria curva de aprendizado do processo e aos rigorosos controles de qualidade necessários no início da produção para garantir a segurança e eficácia do produto.

Também houve frustração com a decisão da Índia de não exportar vacinas mediante o agravamento da pandemia no próprio país, e ainda com a demora na obtenção de aprovação regulatória para uso no Brasil das vacinas Sputnik V, da Rússia, e Covaxin, da Índia.

De acordo com a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, a vacinação brasileira deve avançar em abril, quando alguns Estados conseguirão vacinar a população acima de 60 anos, segundo ela. Apenas a Fiocruz prevê entregar quase 19 milhões de doses no próximo mês.

"A partir deste mês de abril vai se intensificar esta vacinação, em muitos Estados estarão sendo vacinadas as faixas etárias mais altas até 60 anos, além de grupos vulneráveis que foram definidos para a fase prioritária de vacinação", afirmou a presidente da Fiocruz em evento online da Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta terça-feira.

Até o momento, a CoronaVac, da chinesa Sinovac e envasada no Brasil pelo Instituto Butantan, é a principal vacina aplicada no país, sendo responsável por 80% por cento de 18 milhões doses injetadas no país — incluindo primeira e segunda doses.

O Butantan já entregou ao Ministério da Saúde 32,8 milhões de doses, em um contrato que prevê 46 milhões de doses da vacina até o final de abril e mais 54 milhões até o final de setembro — que o Butantan promete antecipar para agosto.