Com carreira "incomum" na PF, Maiurino terá sob sua gestão investigações sensíveis
Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - Com uma carreira incomum em seus 22 anos como delegado, o novo diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Maiurino, será o terceiro ocupante do cargo no atual governo e terá sob a sua gestão investigações sensíveis para o presidente Jair Bolsonaro.
A escolha de Maiurino foi anunciada no início da noite desta terça-feira pelo novo ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, no Twitter, que havia sido empossado mais cedo por Bolsonaro.
"Agradeço ao dr. Rolando Souza pelo período em que esteve à frente da Direção-Geral da @policiafederal. Iniciamos hoje o processo de transição do cargo para o dr. Paulo Maiurino, a quem desejo felicidades nessa importante função no @JusticaGovBR", disse na postagem.
Torres contava com o respaldo de Bolsonaro para promover as trocas na PF e também na Polícia Rodoviária Federal --no último caso, Eduardo Aggio foi substituído por Silvinei Vasques.
A Polícia Federal vinha sendo comandada desde maio do ano passado por Rolando de Souza, que na ocasião da troca não era a primeira opção de Bolsonaro para o cargo. Ele preferia ter o delegado Alexandre Ramagem na função.
Contudo, Ramagem foi barrado por decisão do Supremo Tribunal Federal na esteira das suspeitas de que uma eventual ida dele para o comando da PF teria como objetivo interferir no curso de investigações na corporação. Atualmente, ele é diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
A gestão de Maiurino vai herdar casos sensíveis para o governo da época de Rolando de Souza e que foram abertos por determinação do STF. Um deles é o que apura se o próprio Bolsonaro tentou interferir no comando da corporação. Esse caso resultou na saída do então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, e do ex-ministro da Justiça e ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro, autor das acusações contra o presidente.
Outro caso delicado é o que diz respeito à atuação do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello no enfrentamento à pandemia de Covid-19.
Equipes da PF também atuam nos inquéritos das fake news e dos atos antidemocráticos, também abertos por determinação do Supremo e que investigam aliados ou simpatizantes do governo.
CARREIRA
A escolha de Maiurino surpreendeu policiais com experiência em gestão na cúpula da PF, segundo uma experiente fonte da corporação. A avaliação é que o novo diretor-geral não teria expressão internamente, tendo uma trajetória semelhante à de Anderson Torres, o atual ministro da Justiça que é delegado da PF, mas passou bastante tempo fora da corporação --o último trabalho dele foi de secretário de Segurança Pública do Distrito Federal.
No currículo, Maiurino contabiliza passagens em órgãos do Judiciário brasileiro e também em governos estaduais.
O novo chefe da PF foi secretário de Segurança do STF na gestão da presidência de Dias Toffoli, assessor especial de Segurança do presidente do Conselho de Justiça Federal, Humberto Martins, que também preside o Superior Tribunal de Justiça (STJ). Acumulou passagens pelos governos de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo --chegou a ser secretário de Esportes.
Na Polícia Federal, não seguiu o caminho comum a quem chega ao topo da corporação, como ocupar superintendências regionais e diretorias de destaque. Foi chefe da Interpol Brasil e assessor de Relações Internacionais do comando da PF, por exemplo.
Segundo uma fonte do governo, a mudança era tida como um processo natural de transição com a chegada de um novo ministro que busca nomes que tenham maior afinidade com ele para a gestão. Conforme a fonte, Bolsonaro deu a Torres liberdade para a escolha dos dirigentes, mas os nomes teriam de ser levados ao presidente antes da formalização da nomeação.
Em cerimônia de posse de Torres mais cedo, o presidente já havia sinalizado sobre as alterações na cúpula dos órgãos. Tanto a PF quanto a PRF estão sob a estrutura da pasta da Justiça e Segurança Pública.
"E é natural as mudanças. E a gente sabe que você, todas as mudanças que efetuará no seu ministério, é para melhor adequá-lo ao objetivo, ao qual você traçou. Você quer o Ministério da Justiça o mais focado possível para o bem de todos em nosso país", disse Bolsonaro na cerimônia.
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