Alta demanda por energia fez Brasil gastar R$ 7 bi com geração termelétrica desde outubro
Custos com o acionamento além do previsto de termelétricas para atendimento à demanda por energia no Brasil somaram 3,9 bilhões de reais apenas nos três primeiros meses de 2021, o que supera os quase 3,7 bilhões de reais de todo ano passado, segundo os dados mais atualizados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) vistos pela Reuters.
Essas despesas — geradas quando mais térmicas são ligadas para preservar os reservatórios de hidrelétricas e repassadas aos consumidores por meio de encargos — têm sido um dos fatores por trás de significativos aumentos na conta de luz já aplicados e previstos para este ano.
O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), formado por membros do governo e técnicos da área de energia, tem autorizado desde meados de outubro passado o uso de geração termelétrica adicional no país devido às chuvas abaixo da média na área das usinas hídricas.
Isso significa que o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que coordena o acionamento de usinas para atendimento à demanda, pode ligar mais térmicas que o previsto em modelos computacionais que guiam suas operações.
Os encargos gerados quando há acionamento dessas térmicas adicionais, conhecidos como ESS, somaram quase 7,2 bilhões de reais desde outubro, de acordo com relatório da CCEE, que traz dados até fevereiro e estimativas para março.
Os maiores custos foram registrados em dezembro (1,67 bilhão) e janeiro (1,65 bilhão).
Nesses meses, o ONS chegou a programar a geração de mais de 10 gigawatts médios em térmicas, segundo boletins do órgão.
Além de pesarem na conta de luz de consumidores atendidos por distribuidoras, encargos pelo uso adicional das térmicas são cobrados também no chamado mercado livre —onde indústrias e empresas com alta demanda por energia podem negociar diretamente contratos de suprimento e preços com fornecedores.
Os elevados valores de encargos têm gerado insatisfação no mercado livre, uma vez que são cobrados à parte dos preços combinados nos contratos de compra de energia negociados entre consumidores, geradores e comercializadoras de eletricidade.
"As indústrias todas tiveram problemas porque fizeram a precificação da energia para o ano seguinte (2021), contrataram essa energia e estão pagando essa conta (dos encargos) por fora. E a conta só cresce", disse à Reuters o presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia (Abrace), Paulo Pedrosa.
"Temos uma conta de que só o ESS (encargo) em janeiro, da indústria e do comércio, custou o equivalente a quase 350 mil empregos. A indústria e o comércio pagaram em encargos o que pagariam para quase 350 mil trabalhadores", acrescentou ele.
Segundo o CMSE, o uso de térmicas deve-se às fracas chuvas na região das hidrelétricas do país, as piores já registradas para um período de setembro a março em histórico de 91 anos.
Atualmente, o despacho de termelétricas foi reduzido para nível mais próximo dos 5 gigawatts, segundo dados do ONS.
Isso levou a previsão de encargos pelo uso das térmicas em março a 1,2 bilhão de reais, perto do 1 bilhão de fevereiro e abaixo dos picos de janeiro e dezembro, embora em níveis altos perto da média histórica, de acordo com os dados da CCEE.
Tarifas
O peso de encargos gerados pela operação de termelétricas e pelo pagamento de usinas contratadas como energia de reserva —incluindo parques eólicos, por exemplo— representa quase 16% do aumento médio previsto para as contas de luz em 2021, segundo cálculo da TR Soluções, empresa de tecnologia especializada em simulações tarifárias.
A TR projeta salto de em média 13,8% nas tarifas de energia em 2021, já considerando uma devolução de créditos a consumidores aprovada pela Aneel, após estes terem pago por anos tributos nas contas que acabaram considerados ilegais por decisões judiciais transitadas em julgado. Esses créditos devem impedir uma alta adicional de 3,3%, segundo a empresa.
A consultoria Thymos Energia estima reajustes médios de quase 9% em 2021, tanto pelo custo das térmicas quanto pela desvalorização do real, que impacta as tarifas porque a energia da hidrelétrica de Itaipu é cotada em dólares e pela indexação de parte dos contratos do setor ao índice inflacionário IGP-M.
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