Troca na PF tem que ser por telefonema do diretor-geral ou DO, diz superintendente no Amazonas
Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - Responsável por enviar ao Supremo Tribunal Federal (STF) um pedido de investigação contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o superintendente da Polícia Federal no Amazonas, delegado Alexandre Saraiva, afirmou que o "correto, certo e nobre" numa troca de cargo como ocupa é que o diretor-geral da Polícia Federal telefone para comunicar a mudança
Para Saraiva, a única alternativa válida de comunicação seria a troca ser oficializada no Diário Oficial da União.
O delegado enviou ao STF uma notícia crime para avaliar se a corte abre uma investigação criminal contra Salles. No documento, o ministro é acusado de obstruir uma apuração de apreensão recorde de madeira ilegal na região amazônica, de favorecer madeireiros e ainda de integrar uma organização criminosa envolvida num esquema de receptação e crimes ambientais.
O ministro detém foro privilegiado e só pode responder por crimes de natureza penal perante o Supremo. Procurado, o ministro do Meio Ambiente disse que não iria se manifestar.
Saraiva deu uma entrevista exclusiva à Reuters após começarem a sair informações de que ele seria transferido do cargo --e antes de nota divulgada pela Comunicação da PF perto das 17h30 confirmando a mudança.
O chefe da PF no Amazonas disse que não havia sido informado da troca do cargo pela direção-geral e chegou a falar que não é "normal" saber de uma mudança dessas pela imprensa.
"Não, não é normal não. Informar a imprensa de uma troca de superintendência e não ligar para o superintendente, isso eu não quero acreditar que aconteceu porque seria uma tremenda falta de respeito, falta de ética, falta de caráter até. Então, assim, eu não acredito que fizeram isso não, não acredito, prefiro não acreditar", disse.
"De toda forma, só existem duas maneiras de me comunicar oficialmente dessa decisão. Ou o meu superior hierárquico pega o telefone e me liga, o que é o correto, certo e nobre a se fazer, ou sai no Diário Oficial", reforçou.
Segundo Saraiva, na quarta-feira por volta das 16h e 17h (17h e 18h no horário de Brasília) ele avisou pelo Sistema Eletrônico de Informações (SEI) ao diretor-geral da PF, Paulo Maiurino, que estava encaminhando ao Supremo a notícia crime contra Salles.
A assessoria do STF confirmou à Reuters ter recebido o documento mais cedo, às 11h.
Segundo o delegado, o que houve na quarta-feira foi um amigo dele que trabalha na cúpula da PF que telefonou e perguntou se aceitaria ocupar uma adidância --cargo no qual um servidor é designado para uma missão no exterior. Conforme o relato, Saraiva questionou onde e quando seria, mas não obteve respostas. Para ele, isso foi considerado "um nada".
"Olha só, eu nunca conversei com o novo diretor-geral da Polícia Federal, nunca conversei. Logo, como também não foi publicado no Diário Oficial, isso não aconteceu. O que aconteceu foi um amigo meu, que está na cúpula, me ligou e me perguntou se eu aceitaria uma adidância. Onde? Não sei. Quando? Não sei. Então não", disse.
Saraiva afirmou que a pergunta do amigo foi "solta" e "desconectada". Destacou que ele tem 18 anos de PF e seria o delegado mais longevo atualmente ocupando sucessivamente superintendências, passando por três nos últimos 10 anos.
Na nota divulgada no final da tarde, a comunicação da PF dá outra versão. Disse que Saraiva ficou no cargo no Amazonas por três anos e meio e foi comunicado da mudança no decorrer da quarta-feira. Será substituído pelo delegado Leandro Almada.
SEM RETALIAÇÃO
Apesar de não reconhecer ter havido uma comunicação oficial da troca e que da forma que foi feita a mudança "não é normal", Saraiva afirmou à Reuters que não considera a transferência uma retaliação pelo relatório que fez contra o ministro do Meio Ambiente.
"Não fiz concurso para superintendente, fiz para delegado", afirmou ele, que destacou que não tem apego de se manter à frente do inquérito sobre Salles e que isso quem vai decidir é o STF.
"Sou um soldado, cumpro ordens, missões", disse.
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