Bancos passam a ver crescimento do PIB acima de 5% neste ano
A surpresa positiva com os números do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro do primeiro trimestre abriu a porta para uma série de revisões para cima nas projeções de bancos para o desempenho da economia neste ano, com alguns vendo crescimento do PIB superior a 5%.
O PIB do Brasil cresceu 1,2% entre janeiro e março, terceiro trimestre seguido de ganhos.
O Goldman Sachs elevou a estimativa 5,5%, ante 4,6%. O Bank of America agora espera expansão de 5,2%, bem acima dos 3,4% do cenário anterior, enquanto o Citi ajustou seu prognóstico para 5,1%, contra 3,6% antes. O BNP Paribas agora vê expansão de 5,5%, acima da taxa de 4,5% esperada antes.
O Barclays aumentou a taxa esperada para 4,8%, de 4,3%. O Bradesco corrigiu a perspectiva de crescimento da atividade em 2021 para 4,8%, de 3,3% antes. E o Credit Suisse melhorou sua expectativa a 4,9%, de 4,0%.
Todas as instituições citadas chamaram atenção para a resiliência da economia doméstica diante da segunda onda de Covid-19 que assolou o país —sobretudo em março, considerando apenas o primeiro trimestre.
"Esperamos que a economia se recupere visivelmente nos próximos trimestres, em conjunto com o progresso da vacinação contra a Covid, uma reabertura gradual da economia, estímulo fiscal renovado (e) recuperação da confiança do consumidor e das empresas", disse em nota o chefe de pesquisa econômica do Goldman Sachs para a América Latina, Alberto Ramos.
No cenário-base de Ramos, não há escassez no fornecimento de energia e o país será beneficiado por redução dos gargalos na cadeia de fornecimento, bem como por uma melhora na situação da Covid-19.
Economistas do Bank of America destacaram os indicadores do primeiro trimestre, com a taxa de mobilidade caindo menos que o esperado (apesar da segunda onda de covid-19), melhor adaptação dos negócios à pandemia e aceleração da vacinação.
A expansão em 2021 vai ser puxada pelo consumo privado, maior investimento e maior saldo comercial devido à força da economia mundial, disseram.
"Para o segundo trimestre de 2021, esperamos que a tendência de recuperação continue à medida que as restrições de mobilidade são suspensas", disse o BofA em nota.
"Notavelmente, indicadores antecedentes apontam atividade mais forte em abril", disse o BofA em relatório.
O Citi também chamou atenção para a menor queda na mobilidade, à qual a economia parece estar menos sensível, e avaliou que esse "processo de aprendizado" indica que à frente a performance do PIB será "cada vez mais ditada" por outros fatores além da mobilidade, os quais podem conter qualquer euforia sobre a força da retomada.
"As políticas monetárias/fiscais, o ambiente global e algumas emergentes restrições do lado da oferta devem ganhar mais relevância a partir de agora, e todas elas estão nos levando a uma visão mais cautelosa sobre a força da recuperação doméstica em curso", disseram Leonardo Porto, Paulo Lopes e Thais Ortega em relatório.
O BNP Paribas vê um segundo trimestre "levemente melhor", o que combinado com a surpresa com os números de janeiro a março o levou a ajustar a projeção do PIB para 2021. "Olhando à frente, esperamos que o hiato do produto feche, à medida que a economia continua a crescer", disseram em relatório Gustavo Arruda, Amabile Ferrazoli e Andre Digiacomo. O banco projeta expansão de 3,0% da economia em 2022.
Abaixo de 5% e alguma cautela
Para o Barlcays, a recuperação econômica do Brasil está mais rápida do que o esperado, o que inicialmente foi explicado pelos "consideráveis" estímulos tanto monetários quanto fiscais, mas que agora é amparado pelo cenário externo.
Para a instituição, ainda que haja alguma contração do PIB no segundo trimestre devido a novas ondas da pandemia, as preocupações com o consumo das famílias a partir do fim do auxílio emergencial no ano passado se provaram "exageradas".
"Além disso, a reintrodução do programa de transferência de renda durante o segundo trimestre e sua possível renovação no terceiro trimestre podem fornecer alguma compensação diante dos números ainda crescentes de desemprego e em meio a novas rodadas de restrições de mobilidade, à medida que o programa de vacinação se desenrola com atrasos", disse em nota o economista-chefe para Brasil do Barclays, Roberto Secemski.
De acordo com Secemski, se não fosse a previsão de retração de 0,3% da economia no segundo trimestre sobre o primeiro, a estimativa seria de crescimento acima de 5% em 2021 —patamar para o qual, segundo ele, a pesquisa Focus do BC —que levanta as projeções do mercado— deve migrar nas próximas semanas.
Segundo o Bradesco, apesar da divergência entre os dados de emprego da Pnad e do Caged, os indicadores de diversos setores da economia jogam a favor do Caged, que tem mostrado números melhores, o que sugere um cenário mais benigno para a economia e, por conseguinte, para o mercado de trabalho e consumo.
"Esses indicadores levariam a um PIB acima de 5,0% em 2021, mas a piora na situação hidrológica, eventualmente demandando um acionamento pleno das térmicas, problemas continuados na oferta de insumos para produção e o fato de a dinâmica da pandemia ainda não ter se estabilizado, nos fazem optar por um número um pouco mais conservador", disse em nota o departamento de pesquisas e estudos econômicos do Bradesco.
Também vendo um crescimento abaixo de 5% neste ano, o Credit Suisse elevou sua expectativa para o PIB para alta de 4,9%, ante 4,0% da projeção anterior, em função do resultado acima do esperado no começo do ano e de melhores perspectivas para os trimestres seguintes.
"No geral, o crescimento do PIB mais forte do que o esperado no primeiro trimestre reforça nossa visão de que a remoção do estímulo fiscal pelo governo não anulou a recuperação da economia pelo lado da oferta e de que a economia estava em um ritmo forte no primeiro trimestre", disseram em relatório Solange Srour e Lucas Vilela.
Mais conservador, o Morgan Stanley evitou elevar seu prognóstico de aumento de 2,8% do PIB em 2021, limitando-se a afirmar que os dados melhores do primeiro trimestre e o menor impacto das restrições à mobilidade criam "riscos de alta" à projeção.
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