Guedes abre porta para nova renovação do auxílio e diz que reforma tributária vai desonerar trabalhador
Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta sexta-feira que se a pandemia persistir até outubro, quando terminará mais uma renovação do auxílio emergencial, o benefício será estendido novamente.
Em reunião no Senado, Guedes também elogiou a performance da economia brasileira diante da crise sanitária, destacando a nova etapa da reforma tributária entregue ao Congresso, que, segundo ele, vai desonerar trabalhadores.
"Quem dirige o auxílio emergencial não é a economia, não é sequer a política: quem dirige o auxílio emergencial é a pandemia. Se a pandemia continuasse fora de controle em setembro, outubro, novembro... vamos de ter de renovar de novo o auxílio emergencial, mas não é a expectativa no momento", afirmou Guedes na Comissão Temporária da Covid-19 no Senado.
O ministro disse ainda que na segunda-feira deverá voltar a divulgar um "bom" número de geração de empregos. Ele se referia aos dados do Caged, que compila números de postos formais de emprego, de maio.
Guedes voltou a destacar o crescimento da economia, acompanhado de geração de empregos e de queda da dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). Segundo o ministro, esse número deve cair a 84% ao fim deste ano.
Ele comentou ainda a segunda etapa da proposta de reforma tributária entregue nesta manhã ao Congresso. O ministro defendeu a taxação de dividendos aos mais ricos, considerando "inadmissível" que bilionários paguem zero nessa rubrica enquanto assalariados sentem o maior peso dos impostos.
"É inadmissível. O bilionário recebe dividendos todo ano e paga zero sobre dividendo", disse Guedes.
"Hoje não se cobrava nada (dividendos). Então nós estamos botando o pé na porta e abrindo a porta, (estamos) falando 'olha, vamos cobrar já 20%'. Ali no futuro gradualmente nós vamos unificar isso tudo e ele vai entrar no progressivo."
Segundo Guedes, a reforma tributária é "só uma abertura de porta nessa direção".
"Estamos sinalizando: olha, as empresas vão pagar menos, as pessoas físicas que vivem de rendimento de capital --ou seja, quem realmente é rico no país ou classe média alta-- têm que começar a pagar, e nós estamos desonerando justamente os assalariados", afirmou.
"Então estamos justamente sinalizando que, olha, mudou a música, vai mudar a música. Estamos indo em outra direção agora. Vamos desonerar os trabalhadores."
A segunda etapa da proposta da reforma tributária, apresentada pelo Ministério da Economia nesta sexta-feira, prevê a tributação de dividendos distribuídos a pessoa física em 20%, com isenção para até 20 mil reais recebidos por mês.
O projeto também atualiza a tabela do Imposto de Renda da pessoa física, aumentando a base de isentos, e reduz a taxação para empresas e para alguns investimentos.
BOLSONARO E O TETO DE GASTOS
Durante a reunião virtual com senadores, Guedes relatou pressão recente do presidente Jair Bolsonaro para liberação de recursos para o Ministério da Infraestrutura, citando o episódio como exemplo de impasse nos orçamentos devido às limitações impostas pelo teto de gastos.
Comentando os pedidos de Bolsonaro, Guedes disse que conseguiria o dinheiro, mas que "dois minutos depois" outro ministro reclamaria com um "tiraram meu dinheiro aqui".
"Daí eu tenho que dizer: é a política, é a política. Enquanto não assumirmos o controle dos orçamentos nós estamos presos embaixo desse teto, esse desgraçado desse teto, mas no fundo é o que nos tem permitido não desorganizar a economia enquanto estamos lutando com a pandemia."
PROBLEMA "SERÍSSIMO" NO MERCOSUL
Guedes, criticou ainda a oposição da Argentina a acordos comerciais do Brasil com outros países e alertou que haverá um problema "seríssimo" se o governo vizinho não revir suas posturas em relação ao Mercosul.
"Nós não vamos sair do Mercosul, não, mas nós não vamos estar num Mercosul movido a ideologias", disse Guedes.
Já no fim de sua fala aos senadores, o ministro disse que a privatização da Eletrobras foi um passo decisivo para o futuro do Brasil e necessário para garantir a segurança energética do país.
"As negociações que aconteceram são compreensíveis. Houve muita crítica, mas a verdade é que demos um passo decisivo para o futuro do Brasil", disse.
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