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Previsões sobre PIB em 2022 estão exageradas e inflação vai incomodar mais, afirma Guedes

Ministro da Economia, Paulo Guedes, reconheceu que a economia vai desacelerar com força em 2022, mas pontuou que as previsões de que não haverá crescimento estão exageradas - Por Marcela Ayres
Ministro da Economia, Paulo Guedes, reconheceu que a economia vai desacelerar com força em 2022, mas pontuou que as previsões de que não haverá crescimento estão exageradas Imagem: Por Marcela Ayres

Marcela Ayres

30/11/2021 13h49

Por Marcela Ayres

BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Economia, Paulo Guedes, reconheceu que a economia vai desacelerar com força em 2022, mas pontuou que as previsões de que não haverá crescimento estão exageradas, ao passo que a inflação vai incomodar mais.

Ao participar presencialmente do Encontro Nacional da Indústria da Construção, ele avaliou que o avanço inflacionário é do "tipo chato" e "indigesto", ligado a um choque adverso de oferta.

"Desacelera, sim. Por isso que a gente não vai crescer 4,5% ou 5% de novo, vai crescer bem menos. Mas partir daí para dizer que vai ter recessão é a turma da falsa narrativa, não é isso que vai acontecer, vai dar desacelerada forte", afirmou.

Guedes disse que ficará tranquilo com a inflação quando os juros básicos estiverem à frente do avanço de preços na economia.

"Hoje nós estamos com a inflação ainda na frente dos juros... na hora que você tiver o juro real funcionando a coisa começa a amainar de novo", afirmou.

O ministro elogiou em seguida o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e indicou que a política monetária "leva um tempo para funcionar".

"Eu sou da geração antiga que era à machadada. Na época do Paul Volcker (ex-presidente do BC norte-americano), você dava uma pancada nos juros de uma vez só, vendia bilhões de dólares de reserva, afundava o câmbio logo. Mas é outra geração, tem hoje toda uma metodologia de combate que é baseada nas metas de inflação, no aviso, justamente para não causar muito desacerto, muita turbulência na economia", disse.

Antes dessas considerações, o ministro havia dito, ainda sobre o tema da inflação, que a aprovação da autonomia formal do BC veio na hora certa, quando os preços começaram a subir no início deste ano, sendo a medida correta para combater o avanço inflacionário.

"Você tem que fazer o certo e esperar dar certo, não dá para ficar inventando", disse o ministro.

Guedes avaliou que a inflação subiu no mundo inteiro, já que era zero nos Estados Unidos e foi para 6%. "Era 4% no Brasil e foi para 10%", complementou.

POLÍTICA

Em relação à PEC dos Precatórios, cuja tramitação enfrenta resistência no Senado, Guedes disse confiar que a Casa aprovará a medida, dando ao governo "pelo menos" espaço fiscal no Orçamento de 2022 após a não apreciação da reforma do Imposto de Renda.

O ministro afirmou que a PEC é "o menos ruim do que pode acontecer com o Brasil no momento".

"Espero aprovação, acredito no senso de responsabilidade do Senado", disse.

Embora a proposta tenha sido "bastante modificada" em relação à versão desenhada no ministério, Guedes afirmou que ela é "essencial".

A PEC abre um espaço de 106,1 bilhões de reais no Orçamento de 2022 ao instituir, de um lado, uma trava ao crescimento anual das despesas com precatórios e, de outro, ao mudar a janela de correção da regra do teto de gastos.

Questionado sobre as emendas de relator, o ministro da Economia avaliou ser natural que quem ganhou as eleições tenha mais recursos do que quem perdeu.

"Não é errado em lugar nenhum mundo que quem está no poder tenha mais comando sobre os recursos. Isso é normal, para isso que você ganha eleição. Você ganha eleição para fazer o seu programa", disse.

Em meio à votação no Congresso de medidas para dar mais transparência a essas emendas, contudo, ele avaliou que "qualquer medida no sentido de transparência é muito bom para o Brasil".

O STF suspendeu o pagamento das emendas de relator neste mês, quando a Câmara discutia a PEC dos Precatórios, prioritária para o governo.

Parlamentares e partidos contrários à proposta recorreram ao STF argumentando que esse instrumento de distribuição de recursos --também chamado de "orçamento secreto" diante da dificuldade de rastrear os beneficiários dos repasses-- estaria sendo utilizado como moeda de troca para a aprovação da PEC.

Guedes disse ainda que o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia chegou a pedir 30 bilhões de reais para emendas de relator e, à época, não houve "essa convulsão toda".

"Possivelmente naquela altura o presidente da Câmara garantiu aqueles recursos para ficar independente do governo e fazer a política mesmo sendo oposição ao governo. Ninguém reclamou", afirmou o ministro.

"Agora que é metade daquele dinheiro, mas é para apoiar o governo e fazer as reformas, aí todo mundo descobriu que orçamento é secreto, que aquilo está errado. Aquilo não foi criado pelo (presidente da Câmara, Arthur) Lira, aquilo foi criado antes", completou.

Guedes lembrou ainda que a Economia teve que vetar o valor das emendas de relator tanto em 2020 quanto em 2021.

(Edição de Camila Moreira e José de Castro)