Dólar cai mais de 1% com exterior, Selic alta e redução de temor local; Fed ainda preocupa
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar caiu acentuadamente contra o real nesta quinta-feira, pressionado pela fraqueza da divisa norte-americana no exterior, pelo patamar elevado dos juros brasileiros e pela recente redução de temores político-fiscais domésticos, embora analistas continuassem cautelosos em relação ao agressivo aperto monetário do Federal Reserve.
A moeda norte-americana à vista recuou 1,12%, a 5,1157 reais, renovando seu menor patamar para encerramento desde o último dia 12 (5,0983 reais). Este foi o terceiro pregão de desvalorização do dólar nesta semana, período em que acumula baixa de 2,76%.
Na B3, às 17:16 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 1,15%, a 5,1240 reais.
O dólar à vista caiu 1,31% na mínima do dia, a 5,1062 reais, depois de mais cedo ter chegado a subir 0,24%, a 5,1863 reais.
Por trás dessa queda, participantes do mercado apontaram a fraqueza do dólar no exterior, principalmente ante moedas de países emergentes ou expostas às commodities, como pesos colombiano e mexicano, sol peruano, rand sul-africano e dólar australiano.
Além disso, "a depreciação do real não se sustentou porque a gente ainda tem um colchão muito importante de juros altos", disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
O Banco Central decidiu na véspera manter a taxa Selic em 13,75% ao ano, interrompendo um agressivo ciclo de aperto monetário, mas ponderou que não hesitará em retomar as altas nos juros se a redução da inflação não transcorrer como o esperado.
A decisão --interpretada pelos mercados como o fim do longo processo de aumento dos juros-- beneficiou o Ibovespa, que fechou esta quinta-feira em alta de 1,91%. Os fluxos de recursos para a bolsa paulista forneceram apoio ao mercado de câmbio local, disseram alguns especialistas.
Ao mesmo tempo, continuava jogando a favor dos ativos brasileiros o apoio do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Planalto, anunciada no início da semana.
"Desde que Meirelles apareceu apoiando Lula, o mercado entendeu que havia chance maior de o teto (de gastos) ser mantido" em eventual governo do petista, disse à Reuters, Gabriel Cunha, especialista de mercados internacionais do C6 Bank.
Apesar do alívio recente, Cunha acredita que a trajetória do dólar ao longo dos próximos meses será ascendente, tanto por causa do agressivo ciclo de aperto monetário em curso nos Estados Unidos quanto pela perspectiva de deterioração do quadro fiscal brasileiro a partir do ano que vem.
Na quarta-feira, o Federal Reserve, banco central norte-americano, subiu sua taxa de juros em 0,75 ponto percentual, aperto monetário acompanhado de fortes revisões para cima nas projeções para o nível dos custos dos empréstimos neste ano e no próximo.
Juros mais altos tornam o mercado de renda fixa norte-americano mais rentável, mas também elevam a probabilidade de recessão no país, o que tem desencadeado forte busca por ativos seguros nas últimas semanas.
No Brasil, o fiscal será um empecilho para o mercado de câmbio local porque ambos os principais canditatos nas eleições deste ano, Lula e o atual presidente Jair Bolsonaro (PL), têm mostrado sinais de que não adotarão postura de austeridade fiscal caso eleitos, avaliou Cunha, o que deve piorar a trajetória da dívida pública.
O Goldman Sachs disse nesta quinta-feira esperar que o quadro fiscal brasileiro "se deteriore visivelmente" em 2023, com perspectiva de que o governo do próximo presidente do país --seja de Lula ou de Bolsonaro-- precisará propor suspensão do teto de gastos para cumprir as promessas de campanha.
Com os desafios locais se somando a exterior adverso, o C6 espera que o dólar encerre este ano em 5,50 reais, avançando ainda mais, para 5,80 reais, até o fim de 2023.
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