Dólar tem vaivém ante real com eleições, rali externo e volatilidade de fim de trimestre
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar mostrava instabilidade frente ao real nesta sexta-feira, alternando altas e baixas conforme o último pregão antes do primeiro turno das eleições presidenciais trazia cautela e volatilidade aos negócios, cenário reforçado pela retomada de um rali da divisa norte-americana no exterior ao fim de um mês marcado por aversão a risco.
A formação da Ptax de fim de mês e trimestre também colaborava para a inconstância, diziam especialistas. A Ptax é uma taxa de câmbio calculada pelo Banco Central. No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas (que ganham com a valorização da moeda) ou vendidas em dólar.
Às 11:09 (de Brasília), o dólar à vista avançava 0,33%, a 5,4117 reais na venda, após trocar de sinal várias vezes ao longo das primeiras horas de negociação. A moeda já oscilou entre 5,3768 reais (-0,31%) e 5,4215 reais (+0,52%).
Na B3, o contrato mais líquido de dólar futuro subia 0,15%, a 5,4440 reais.
"É dia de disputa técnica entre comprados e vendidos pela Ptax, onde, por enquanto, os comprados estão saindo vitoriosos, ajudados também pelo fortalecimento do dólar no mercado internacional", disse Jefferson Rugik, presidente executivo da Correparti Corretora, sobre a movimentação desta manhã.
No exterior, um índice do dólar contra uma cesta de rivais fortes subia 0,55%, impulsionado por firme desvalorização do euro na esteira de dados de inflação europeus e norte-americanos bem piores do que o esperado, que reforçaram cenário de forte aperto monetário por parte dos principais bancos centrais do mundo.
Nesta sexta-feira, a vice-chair do Federal Reserve, Lael Brainard, e a presidente do Fed de San Francisco, Mary Daly, reafirmaram a determinação do banco central dos Estados Unidos de seguir elevando os juros de forma a desacelerar a economia e baixar a inflação mais alta em décadas. O Fed já subiu sua taxa de juros em 3 pontos percentuais desde março deste ano, o que é visto como fator de impulso para o dólar.
Colaborava ainda para a instabilidade dos negócios o nervosismo durante a reta final das eleições presidenciais, que contou com acaloradas trocas de farpas entre o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em debate promovido na noite de quinta-feira pela TV Globo.
Apesar do bate-boca, as campanhas de ambos os candidatos avaliaram suas participações no debate como positivas, e Carlos Duarte, planejador financeiro pela Planejar, disse que o confronto não parece ter alterado significativamente o cenário eleitoral, o que, segundo ele, explicaria os movimentos pontuais do dólar nesta sexta-feira.
Lula tem liderado confortavelmente as pesquisas de intenção de voto, e há chances de o petista vencer as eleições já no domingo.
Após várias semanas de aversão a risco global conforme o Fed e outros grandes bancos centrais sobem as taxas de juros, o dólar estava a caminho de encerrar setembro com alta em torno de 4% contra o real, o que por ora confere no terceiro trimestre valorização de cerca de 3,4%.
Esse avanço, mesmo somado ao salto de quase 10% registrado no período de abril a junho, não era suficiente para compensar o tombo de mais de 14% dos primeiros três meses do ano, e o dólar ainda recua cerca de 3% frente à divisa local até agora em 2022.
Entre os fatores que explicam a relativa resiliência da taxa de câmbio nesto ano, especialistas têm destacado o patamar elevado da taxa Selic, atualmente em 13,75%, nível que torna os retornos do real atraentes para investidores estrangeiros que buscam lucrar com diferenciais de juros entre economias.
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