Vendas no varejo do Brasil recuam pela 3ª vez em agosto e batem nível mais baixo do ano
Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - O varejo brasileiro registrou em agosto a terceira queda seguida nas vendas e bateu o menor patamar do ano, ainda patinando em meio a um cenário de inflação e juros elevados.
Em agosto, as vendas do setor contraíram 0,1% na comparação com o mês anterior, de acordo com os dados divulgados nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado foi ligeiramente melhor do que a expectativa em pesquisa da Reuters de queda de 0,2%, mas levou as vendas a acumularem perdas de 2,5% nos três meses seguidos de taxas negativas. O setor só não registrou o quarto mês seguido de perdas porque o IBGE revisou para cima o resultado de maio, passando de uma perda de 0,5% para avanço de 0,2%.
Na comparação o mesmo mês do ano anterior, entretanto, as vendas mostraram desempenho melhor do que a expectativa de estabilidade ao crescerem 1,6%..
O desempenho do setor varejista brasileiro vem patinando nos últimos meses em um cenário de aperto do crédito e cautela com a inflação. Embora o IPCA tenha registrado em agosto o segundo mês de queda dos preços ao consumidor, isso se deveu principalmente ao impacto do recuo dos custos dos combustíveis.
Embora o resultado de agosto tenha posicionado o comércio no menor patamar do ano, o volume de vendas ainda está 1,1% acima do nível pré-pandemia, de fevereiro de 2020, mas 5,2% abaixo do ponto mais alto da série, em outubro de 2020.
“O comércio está numa trajetória de declínio", afirmou o gerente da pesquisa, Cristiano Santos. "A trajetória ... depois da pandemia ainda é bem volátil”.
“Essa perda de fôlego do comércio pode ser justificada pelo impacto da inflação, mesmo com ela menor e com quedas em julho e agosto. A inflação cedeu, mas ainda reduz o poder de compra e o ímpeto por consumo", completou.
Para Alberto Ramos, do Goldman Sachs, o alto endividamento das famílias e as condições de crédito exigentes devem ser compensadas nos próximos meses pelas quedas nos preços de combustíveis, eletricidade e telecomunicações, entre outros fatores.
"Transferências de dinheiro generosas para as famílias com uma alta propensão de consumo (em medidas de apoio do governo) e a melhora da confiança do consumidor oferecem algum suporte para a atividade varejista no curto prazo", disse ele.
ALIMENTOS E COMBUSTÍVEIS
Entre as oito atividades pesquisadas, três tiveram retração: Artigos farmacêuticos, de 0,3%; Equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação, de 1,4%; e Outros artigos de uso pessoal e doméstico, de 1,2% --as duas últimas, de acordo com Santos, têm ganhado relevância na análise dos resultados devido aos desempenhos negativos nos últimos meses.
O gerente da pesquisa destacou ainda que o avanço de 0,2% nas vendas de Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo funcionou como um "fator âncora" para o resultado do mês, segurando o resultado total perto de zero, uma vez que pesa cerca de 50% no índice global.
Já a atividade de Combustíveis e lubrificantes apontou crescimento de 3,6%, após alta de 12,6% em julho. “Como a queda do IPCA (em agosto) foi concentrada nos combustíveis, isso ajudou a reduzir a perda do varejo”, disse Santos.
O comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças e material de construção, teve queda de 0,6%. Isso mesmo com o avanço de 4,8% no mês de Veículos, motos, parte e peças. Materiais de construção apresentaram retração de 0,8% nas vendas.
“A atividade caiu 4,5% de maio para junho e 2,7% de junho para julho, então, o resultado de agosto ainda não é suficiente para retomar o patamar anterior a esses dois meses de queda”, disse Santos, explicando que esse resultado reflete uma queda nos preços dos veículos.
O desempenho do varejo no país acompanha o da produção industrial, que em agosto voltou a registrar queda, de 0,6%, ainda com dificuldades de deslanchar e retomar o patamar pré-pandemia.
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