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Taxa real de juros no Brasil é "fora de propósito", diz Haddad citando inflação menor e atividade fraca

03/01/2023 09h07

Por Bernardo Caram

BRASÍLIA (Reuters) - O Brasil vive hoje situação anômala, com uma taxa real de juros “fora de propósito”, disse nesta terça-feira o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, argumentando que a atividade econômica já passa por desaceleração e que a inflação no país está mais baixa comparativamente a outros países.

Em entrevista ao portal Brasil 247, Haddad afirmou que esse cenário foi impulsionado por uma “farra eleitoral” do governo anterior, que teria gerado um custo de 300 bilhões de reais aos cofres públicos com medidas que classificou como eleitoreiras.

Ele também argumentou que o ex-presidente Jair Bolsonaro deixou como legado uma taxa básica de juros que saltou de 2% ao ano na pandemia para 13,75%.

"O Brasil está com taxa de inflação menor do que os Estados Unidos e a Europa, só que estamos com a maior taxa de juro real do planeta. Olha o paradoxo que estamos vivendo, uma situação completamente anômala, uma inflação comparativamente baixa e uma taxa de juro real fora de propósito para uma economia que já vem desacelerando", disse, ressaltando que o Banco Central tem conhecimento sobre esse cenário.

Em seus comunicados, o Banco Central tem dado sinais em direção que não coincidem com a avaliação de Haddad. A autarquia tem afirmado que seguirá avaliando se manter a taxa Selic em 13,75% ao ano será suficiente para levar a inflação à meta, ressaltando que não é o momento de baixar a taxa e que não hesitará em retomar as altas nos juros se considerar necessário.

Em declarações recentes Haddad tem pregado uma harmonização das políticas fiscal e monetária, em meio a cobranças do BC para que o novo governo atue com responsabilidade nas contas públicas. A coordenação entre as duas áreas também é defendida pelo presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto.

Na entrevista desta segunda, o ministro rejeitou a ideia de que o mercado tem oscilado por conta de ataques especulativos, argumentando que as movimentações ocorrem porque havia uma ideia errônea de que a economia estava no rumo certo, mas os números apresentados pela transição de governo mostram que a gestão Bolsonaro deixou um rombo nas contas públicas.

"Não é um ataque especulativo, é que a ficha caiu. Cabe a nós esclarecer a situação com transparência", disse. "Boa parte do empresariado está torcendo para o país dar certo, mas muitos não tinham noção do governo que estavam apoiando, achavam que economia estava a pleno vapor".

SEM META PARA CÂMBIO

O ministro afirmou ainda que não haverá discussão no novo governo sobre uma meta para a taxa de câmbio. Ele ponderou que a volatilidade do real é nociva e que a governança nas contas públicas pode estabilizar o ambiente para a moeda e os juros.

Em relação à desoneração de combustíveis, Haddad afirmou que o ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, chegou a sugerir uma prorrogação desses benefícios por 90 dias a partir de janeiro. Ele disse ter defendido, na ocasião, uma extensão por 30 dias, esperando que o presidente indicado da Petrobras, Jean Paul Prates, tomaria posse ainda neste mês.

No entanto, de acordo com o ministro, a questão ficou "um inferno" com a Lei das Estatais e regras de compliance, o que deve inviabilizar a posse tão rapidamente. Por isso, disse que Lula decidiu prorrogar por dois meses o benefício para gasolina e álcool e um ano para outros insumos.

O ministro chegou a anunciar publicamente que a desoneração de combustíveis implementada por Bolsonaro seria extinta em 1º de janeiro. Depois, o governo eleito recuou e optou pela prorrogação.

Na entrevista, Haddad anunciou que o Conselho Monetário Nacional --responsável por formular políticas relacionadas a moeda e crédito-- será coordenado por ele; a ministra do Planejamento, Simone Tebet; e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Até o ano passado, com o superministério da Economia, o órgão era comandado por Guedes, seu secretário de Orçamento e o presidente do BC.

O ministro afirmou ainda que seu secretário-executivo, Gabriel Galípolo discutirá com Banco do Brasil e Caixa o programa voltado a endividados prometido por Lula na campanha, em parceria também com bancos privados. Segundo ele, a renegociação será inicialmente voltada a pessoas físicas, mas empresas também poderão participar.

A medida ajudará a impulsionar o mercado interno, juntamente com o fortalecimento da área social e a implementação de uma política para recuperar o poder de compra do salário mínimo, afirmou.