Credit Suisse espera "divergência anormal" em resultados de bancos em 2023; rebaixa Santander Brasil
Analistas do Credit Suisse veem piora na relação risco versus retorno do setor bancário brasileiro, avaliando que os bancos devem enfrentar maiores provisões de exposição de crédito direto à Americanas e relacionados à sua cadeia de fornecedores, encerrando a "fase de lua de mel" no segmento corporativo.
Marcelo Telles e Daniel Vaz afirmam, no entanto, que não enxergam "o escândalo contábil" envolvendo a Americanas como um risco sistêmico, assim como destacam a boa saúde geral do setor corporativo - mesmo excluindo empresas relacionadas a commodities, conforme relatório a clientes nesta segunda-feira.
Eles, porém, apontam que questionamento sobre a independência do Banco Central acrescentou incerteza, assim como o cenário de Selic mais alta por mais tempo em razão de maior incerteza fiscal também deve adiar a recuperação da margem financeira de Santander Brasil e Bradesco.
Para os analistas, 2023 será um ano com "divergência anormal" no desempenho operacional e rentabilidade entre os quatro grandes bancos com atuação no Brasil.
Banco do Brasil e Itaú Unibanco, estimam, devem ter retornos sobre o patrimônio (ROE) em torno de 19%-20%, beneficiados por o ambiente de taxas de juros mais altas, desempenho superior de qualidade de ativos.
Bradesco e Santander Brasil, por sua vez, avaliam, devem ter ROEs na faixa dos 10%, com ROE recorrente no quarto trimestre de 2022 estimado em 10%, impactado pelo pior desempenho da qualidade dos ativos no varejo e corporativo, e desempenho negativo da margem de mercado (NII).
Nesse contexto, Telles e Vaz reiteraram BB e Itaú como seus papéis preferidos, com recomendação "outperform" e preços-alvo de 50 e 32 reais. Itaú tinha preço-alvo de 36 reais anteriormente.
No caso de BB, projetam receita de 33,4 bilhões de reais em 2023, implicando ROE de 20,9%. "Apesar das maiores provisões relacionadas à Americanas, o banco deve se beneficiar do forte desempenho da NII, com taxas de juros mais altas impulsionando a margem dos depósitos, bom desempenho de BB Seguridade e Cielo."
Também afirmam ver com "bons olhos" o discurso inicial da recém-nomeada presidente-executiva do BB, Tarciana Medeiros, destacando que é possível o Banco do Brasil cumprir sua responsabilidade social com o compromisso de gerar valor para os acionistas minoritários.
De acordo com os analistas, os múltiplos sugerem que a ação está excessivamente descontada, fornecendo uma proteção no caso de uma desaceleração do mercado.
Em relação a Itaú, ressaltam que, apesar de uma projeção mais conservadora, o lucro líquido de 34,5 bilhões de reais previsto para este ano ainda implica crescimento de 10% em relação a 2022 e ROE de 20,7%. "O banco deve continuar superando os pares do setor privado em qualidade de ativos e NII em 2023."
Ao mesmo tempo, a equipe do CS cortou a recomendação de Santander Brasil de "neutra" para "underperform", com preço-alvo sendo reduzido de 35 para 31 reais, citando uma perspectiva operacional mais desafiadora e "valuation" pouco atrativo.
A previsão do lucro líquido de 2023 caiu 33%, a 12,3 bilhões de reais, segundo eles, principalmente por menor margem de lucro do mercado e maiores provisões, levando a uma queda de 8% em relação a 2022 e a um ROE abaixo do potencial de 14,5%. Também esperam resultados fracos no último trimestre de 2022.
Eles avaliam que os múltiplos em que as units estão sendo negociadas não são consistentes com o cenário de baixa rentabilidade.
Para o Bradesco, os analistas reduziram a projeção de lucro líquido em 12% para 2023, a 23 bilhões de reais, particularmente por causa de uma menor margem de lucro do mercado e maiores provisões, levando a um lucro por ação estável em relação a 2022 e a um ROE abaixo do potencial de 14%.
Eles também preveem resultados fracos nos quatro meses finais do ano passado, enquanto reiteraram recomendação "underperform" para as ações, reduzindo preço-alvo de 19 para 16 reais.
Às 11:25, Santander Brasil Unit caía 2,95%, a 28,3 reais, enquanto Bradesco PN cedia 1,64%, a 14,43 reais, Itaú Unibanco perdia 1,69%, a 25,66 reais, e Banco do Brasil ON subia 2,57%, a 41,1 reais.
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