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Credit Suisse espera "divergência anormal" em resultados de bancos em 2023; rebaixa Santander Brasil

Analistas avaliam que bancos devem enfrentar maiores provisões de exposição de crédito direto à Americanas e relacionados à sua cadeia de fornecedores. - Fabrice Coffrini / AFP
Analistas avaliam que bancos devem enfrentar maiores provisões de exposição de crédito direto à Americanas e relacionados à sua cadeia de fornecedores. Imagem: Fabrice Coffrini / AFP

Paula Arend Laier

em São Paulo

23/01/2023 11h47

Analistas do Credit Suisse veem piora na relação risco versus retorno do setor bancário brasileiro, avaliando que os bancos devem enfrentar maiores provisões de exposição de crédito direto à Americanas e relacionados à sua cadeia de fornecedores, encerrando a "fase de lua de mel" no segmento corporativo.

Marcelo Telles e Daniel Vaz afirmam, no entanto, que não enxergam "o escândalo contábil" envolvendo a Americanas como um risco sistêmico, assim como destacam a boa saúde geral do setor corporativo - mesmo excluindo empresas relacionadas a commodities, conforme relatório a clientes nesta segunda-feira.

Eles, porém, apontam que questionamento sobre a independência do Banco Central acrescentou incerteza, assim como o cenário de Selic mais alta por mais tempo em razão de maior incerteza fiscal também deve adiar a recuperação da margem financeira de Santander Brasil e Bradesco.

Para os analistas, 2023 será um ano com "divergência anormal" no desempenho operacional e rentabilidade entre os quatro grandes bancos com atuação no Brasil.

Banco do Brasil e Itaú Unibanco, estimam, devem ter retornos sobre o patrimônio (ROE) em torno de 19%-20%, beneficiados por o ambiente de taxas de juros mais altas, desempenho superior de qualidade de ativos.

Bradesco e Santander Brasil, por sua vez, avaliam, devem ter ROEs na faixa dos 10%, com ROE recorrente no quarto trimestre de 2022 estimado em 10%, impactado pelo pior desempenho da qualidade dos ativos no varejo e corporativo, e desempenho negativo da margem de mercado (NII).

Nesse contexto, Telles e Vaz reiteraram BB e Itaú como seus papéis preferidos, com recomendação "outperform" e preços-alvo de 50 e 32 reais. Itaú tinha preço-alvo de 36 reais anteriormente.

No caso de BB, projetam receita de 33,4 bilhões de reais em 2023, implicando ROE de 20,9%. "Apesar das maiores provisões relacionadas à Americanas, o banco deve se beneficiar do forte desempenho da NII, com taxas de juros mais altas impulsionando a margem dos depósitos, bom desempenho de BB Seguridade e Cielo."

Também afirmam ver com "bons olhos" o discurso inicial da recém-nomeada presidente-executiva do BB, Tarciana Medeiros, destacando que é possível o Banco do Brasil cumprir sua responsabilidade social com o compromisso de gerar valor para os acionistas minoritários.

De acordo com os analistas, os múltiplos sugerem que a ação está excessivamente descontada, fornecendo uma proteção no caso de uma desaceleração do mercado.

Em relação a Itaú, ressaltam que, apesar de uma projeção mais conservadora, o lucro líquido de 34,5 bilhões de reais previsto para este ano ainda implica crescimento de 10% em relação a 2022 e ROE de 20,7%. "O banco deve continuar superando os pares do setor privado em qualidade de ativos e NII em 2023."

Ao mesmo tempo, a equipe do CS cortou a recomendação de Santander Brasil de "neutra" para "underperform", com preço-alvo sendo reduzido de 35 para 31 reais, citando uma perspectiva operacional mais desafiadora e "valuation" pouco atrativo.

A previsão do lucro líquido de 2023 caiu 33%, a 12,3 bilhões de reais, segundo eles, principalmente por menor margem de lucro do mercado e maiores provisões, levando a uma queda de 8% em relação a 2022 e a um ROE abaixo do potencial de 14,5%. Também esperam resultados fracos no último trimestre de 2022.

Eles avaliam que os múltiplos em que as units estão sendo negociadas não são consistentes com o cenário de baixa rentabilidade.

Para o Bradesco, os analistas reduziram a projeção de lucro líquido em 12% para 2023, a 23 bilhões de reais, particularmente por causa de uma menor margem de lucro do mercado e maiores provisões, levando a um lucro por ação estável em relação a 2022 e a um ROE abaixo do potencial de 14%.

Eles também preveem resultados fracos nos quatro meses finais do ano passado, enquanto reiteraram recomendação "underperform" para as ações, reduzindo preço-alvo de 19 para 16 reais.

Às 11:25, Santander Brasil Unit caía 2,95%, a 28,3 reais, enquanto Bradesco PN cedia 1,64%, a 14,43 reais, Itaú Unibanco perdia 1,69%, a 25,66 reais, e Banco do Brasil ON subia 2,57%, a 41,1 reais.