Taxas dos contratos futuros de juros caem com percepção positiva sobre BC e dados fracos nos EUA
Por Fabrício de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos contratos futuros de juros fecharam em baixa nesta segunda-feira, pela segunda sessão consecutiva, influenciadas por uma percepção positiva em relação às declarações do presidente do Banco Central e pelo recuo dos rendimentos dos Treasuries, após os EUA divulgarem dados de atividade piores que o esperado.
No início da sessão, as declarações do presidente do BC, Roberto Campos Neto, em evento em São Paulo foram bem recebidas pelas mesas de operação. Embora os comentários tenham reforçado falas anteriores, a percepção foi de que a relação do BC com o governo está melhor do que há algumas semanas.
“Tivemos pela manhã um discurso bem positivo do Campos Neto, elogiando o arcabouço fiscal, elogiando o (ministro da Fazenda, Fernando) Haddad. Aparentemente, BC e governo estão procurando trabalhar juntos”, pontuou Felipe Novaes, chefe da mesa de operações do C6 Bank.
“A curva de juros é até mais sensível que o dólar a este apelo de mais parceria entre política monetária e fiscal”, acrescentou.
Durante evento do Bradesco BBI, Campos Neto falou para uma plateia do mercado financeiro que é preciso reconhecer o esforço de Haddad para reduzir os riscos fiscais do país com a apresentação do novo arcabouço fiscal.
“Eu acho que o que foi anunciado até agora elimina o risco de cauda para aqueles que achavam que a dívida poderia ter uma trajetória mais explosiva”, afirmou Campos Neto, para depois abordar a questão das receitas, que têm gerado desconfiança em parte dos analistas econômicos.
“Eu acho que tem uma certa ansiedade ainda em relação à parte das receitas. A gente precisa observar como vai tramitar no Congresso. Eu acho que tem uma certa ansiedade em relação a despesa obrigatória, eu acho que às vezes até injusta, eu acho que isso deveria ser cobrado com uma certa parcimônia”, acrescentou.
O cenário externo também contribuiu para o recuo das taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros).
O relatório de Emprego Nacional da ADP mostrou que foram abertos 145.000 postos de trabalho no setor privado dos Estados Unidos no mês passado. Economistas consultados pela Reuters previam abertura de 200.000 vagas.
Já o Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM, na sigla em inglês) informou que seu PMI não manufatureiro caiu para 51,2 no mês passado, de 55,1 em fevereiro. Economistas consultados pela Reuters previam que o PMI não manufatureiro cairia para 54,5.
Os números reforçaram a percepção de fraqueza da economia norte-americana, o que em tese diminui o espaço para que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) continue a elevar sua taxa de juros.
Em reação, os rendimentos dos Treasuries recuaram, reforçando também o viés de baixa nas taxas futuras do Brasil.
No fim da tarde, a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para outubro de 2023 estava em 13,49%, ante 13,497% do ajuste anterior. Já a taxa para janeiro de 2024 estava em 13,225%, ante 13,239% do ajuste anterior. A taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 11,96%, ante 11,999%. Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,905%, ante 11,99% do ajuste anterior.
Perto do fechamento, a curva a termo precificava 4% de chances de o BC reduzir a Selic em 0,25 ponto porcentual no encontro de política monetária de maio e 96% de probabilidade de ele manter a taxa em 13,75% ao ano.
Questionado em um segundo evento à tarde, em São Paulo, sobre o que o Comitê de Política Monetária (Copom) fará na próxima reunião, em maio, Campos Neto desconversou.
“Vamos trabalhar para fazer com que a inflação vá para a meta com mínimo de custo para a sociedade possível”, disse.
No fim da tarde, as taxas dos Treasuries seguiam em queda.
Às 16:36 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- caía 4,10 pontos-base, a 3,296%.
(Por Fabrício de Castro)
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