Taxas futuras de juros voltam a cair com expectativa de corte da Selic e fala de Campos Neto
Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - Após forte recuo na sessão anterior, as taxas dos contratos futuros de juros fecharam esta segunda-feira em nova baixa na ponta curta, em meio à expectativa de início do ciclo de cortes da Selic e a novas declarações do presidente do Banco Central, enquanto a ponta longa apresentou elevação, na esteira do avanço dos rendimentos dos Treasuries no exterior.
Assim como na última semana, os investidores seguiram elevando as apostas de que o Banco Central, em função do arrefecimento recente dos índices de inflação, caminha para começar a cortar a taxa básica Selic em agosto ou setembro. Atualmente, a taxa está em 13,75% ao ano.
“Olhando para frente, é bem possível que o BC possa cortar em agosto. De fato, é um cenário que está começando a ficar mais para agosto”, comentou o economista Rafael Pacheco, da Guide Investimentos.
A Guide mantém a perspectiva de início do corte em setembro, mas seu cenário está em revisão por conta dos indicadores mais recentes no Brasil, que mostraram uma inflação mais fraca: IPCA-15, IGP-M, IGP-DI e IPCA.
“Os fundamentos estão positivos para a queda dos juros. As expectativas desancoradas é um dos poucos empecilhos para o BC começar a cortar juros, e hoje tivemos uma queda relevante no Focus”, acrescentou Pacheco.
No relatório Focus divulgado na manhã desta segunda-feira, a mediana das projeções do mercado colhidas pelo BC para o IPCA em 2023 caiu de +5,69% para +5,42%; para 2024, foi de 4,12% para 4,04%.
No caso de 2025, a projeção do IPCA passou de 4,00% para 3,90% e, para 2026, foi de 4,00% para 3,88%.
Durante a tarde, declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reforçaram a percepção de que o início dos cortes da Selic está se aproximando.
Campos Neto destacou que a curva futura de juros tem tido uma "queda relevante" no Brasil e indicou, sem especificar o momento, que isso abre espaço para corte na taxa básica Selic à frente.
"A curva de juros futuros tem tido queda relevante. Isso significa que o mercado está dando credibilidade ao que está sendo feito, o que abre espaço para atuação de política monetária à frente", disse Campos Neto.
Apesar da fala mais "dovish" em alguns momentos, o presidente do BC voltou a externar preocupações em relação aos núcleos de inflação. Ao mostrar gráficos com dados de vários países, Campos Neto defendeu que os núcleos de inflação são a "parte mais preocupante" do atual cenário.
"O núcleo de inflação subiu muito, mas está caindo muito lentamente, em especial na América Latina", disse o presidente do BC. "Vemos lugares onde temos inflação de núcleo rodando ainda muito alto, como Chile e Brasil", acrescentou.
Em meio à expectativa de uma inflação mais comportada no futuro, a curva a termo precificava no fim da tarde desta segunda-feira apenas 12% de chances de o BC cortar a Selic em 0,25 ponto percentual na reunião deste mês. A probabilidade de manutenção é de 88%.
Para a reunião de agosto, a curva precificava praticamente 100% de chances de corte de 0,25 ponto percentual.
No fim da tarde, a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 12,985%, ante 13,027% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 11,035%, ante 11,078% do ajuste anterior. Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2026 estava em 10,44%, ante 10,464% do ajuste anterior, e a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,505%, ante 10,498%.
Na ponta mais longa, o leve viés de alta foi justificado pelo avanço dos rendimentos dos Treasuries no exterior, em meio à expectativa por novos dados econômicos nos EUA e pela reunião do Federal Reserve nesta semana.
Às 16:51 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- caía 0,70 ponto-base, a 3,7375%.
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