Saída de Ferreira Jr. da Eletrobras levanta dúvidas e pesará no curto prazo, dizem analistas

Por Letícia Fucuchima

SÃO PAULO (Reuters) - A renúncia de Wilson Ferreira Jr. da presidência da Eletrobras, em uma ação inesperada e com motivação não muito clara, deve pesar sobre os papéis da companhia elétrica no curto prazo, embora a entrada de Ivan Monteiro no cargo seja positiva e indique continuidade do trabalho que vinha sendo feito na empresa até então, avaliaram analistas de banco.

A Eletrobras anunciou na noite da véspera a saída de Ferreira Jr., que foi por anos um importante ator na companhia e decisivo para que a privatização vingasse. O executivo deixa o posto menos de um ano depois de ter retornado à elétrica para comandar a "virada de chave" para uma gestão privada após a desestatização concluída em junho passado.

Segundo analistas, a saída repentina do executivo, ainda que tenha se dado sob alegação de "razões pessoais", acaba levantando uma série de especulações, e deve influenciar negativamente os papéis da empresa no curto prazo.

"Acreditamos que os investidores vão se perguntar se sua saída também pode ter ocorrido, em parte, por pressão do governo federal (que estava tentando renacionalizar a Eletrobras), desenvolvimentos negativos com a usina nuclear Angra 3, uma possível decisão do Supremo Tribunal Federal sobre fundamentos de inconstitucionalidade da privatização, entre outros", escreveram Henrique Peretti e Victor Burke, do J.P. Morgan.

Antônio Junqueira, do Citi, observou que uma hipótese para a saída do executivo pode estar ligada à nova configuração do conselho de administração da Eletrobras, agora uma "corporation", isto é, sem controlador definido e com capital pulverizado na bolsa. No ano passado, Ferreira Jr. anunciou também de forma inesperada sua renúncia da Vibra, também uma corporation.

"As corporations se moldam de maneiras muito diferentes. A Vibra e a Eletrobras (desde 2022) têm conselhos bastante ativos e exigentes (a Eletrobras, por exemplo, tinha quase uma reunião por semana desde que foi privatizada). Conselhos muito ativos adicionam uma camada chave de governança (necessária) às corporações. Eles também podem adicionar muito atrito, no entanto", disse Junqueira em relatório a clientes.

A saída do CEO também ocorre em momento positivo para a Eletrobras, em que seu plano de reestruturação pós-privatizaão começa a se refletir em melhores resultados financeiros, com perspectiva futura de redução mais expressiva do principal passivo contencioso e corte de custos.

Apesar disso, os analistas dizem que a entrada de Ivan Monteiro no posto, que era presidente do conselho da elétrica até então, é positiva, por se tratar de um executivo experiente, com passagens por Petrobras e Banco do Brasil, e indicar continuidade da condução da empresa.

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"Ele está pronto para o trabalho e tem liderado um conselho bastante ativo. Ele conhece os desafios de turnaround e devemos em breve perceber que ele é capaz de entregar bons resultados", avaliou Junqueira.

"Embora acreditemos que a liderança do Sr. Ferreira fará falta, a Eletrobras agora tem um estratégia clara para fazer o que precisa ser feito para criar valor nos próximos anos e uma boa equipe de gerenciamento para implementá-lo", escreveu Marcelo Sá, do Itaú BBA.

As ações da Eletrobras operavam em queda de mais de 3% nesta terça-feira, enquanto o Ibovespa estava próximo de uma estabilidade, por volta das 11h40.

(Por Letícia Fucuchima; com reportagem adicional de Gabriel Araujo)

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