Vibra "não ficará de fora" e passa a considerar diesel russo, diz CEO
Por Marta Nogueira
RIO DE JANEIRO (Reuters) -A Vibra Energia não ficará de fora e passou a considerar a compra de diesel russo mais barato como uma alternativa, disse nesta terça-feira o CEO da empresa, Ernesto Pousada, após a companhia sofrer impactos em seus resultados do segundo trimestre em meio a uma forte importação do produto por concorrentes com descontos ante origens mais tradicionais.
Em videoconferência com analistas de mercado, o executivo ressaltou que a empresa não comprou diesel de origem russa ao longo do segundo trimestre, enquanto avaliava questões de compliance, uma vez que a Rússia sofre sanções ocidentais por conta da guerra com a Ucrânia.
A decisão por considerar o diesel de origem russa como uma alternativa foi "bastante pensada, discutida" e tomada apenas após a companhia entender que a importação do produto "é estrutural e não oportunística", frisou Pousada.
"Não podemos ficar de fora, nós vamos fazer isso, mas nós fizemos esse movimento (de passar a considerar a origem russa) quando tivemos a certeza que isso não era oportunístico e era realmente algo estrutural, então passamos a incluir o diesel russo nas nossas alternativas de 'sourcing'", disse o CEO.
O produto da Rússia tem sido ofertado com desconto em relação a outras origens, conforme Moscou se mobiliza para garantir uma maior diversificação de compradores diante de sanções dos países do G7 aos derivados produzidos no país por conta da guerra da Ucrânia.
Entre abril e junho, cerca de 55% do volume total de diesel importado pelo Brasil -- de aproximadamente 3,5 bilhões de litros -- foram de origem russa, segundo a Vibra, que já foi a maior importadora do produto do Brasil e sofreu com perda de participação de mercado.
A Raízen, segunda maior distribuidora de combustíveis, não comentou se comprou ou pretende comprar o produto da Rússia, com diretores afirmando durante teleconferência que não divulgam sua estratégia de suprimento.
O executivo da Vibra explicou, contudo, que a empresa não vê atualmente oportunidade de importação do combustível russo, uma vez que os preços do petróleo subiram e os valores do produto da Rússia acabaram ficando acima de um indicador máximo definido em sanções, para que possa ser comprado.
"Nós montamos uma operação bastante robusta para assegurar as melhores práticas nessa importação. E também entendemos que, como o preço do petróleo em algum momento (irá cair), o diesel russo é uma alternativa estrutural para o Brasil, e portanto a Vibra estará incluindo isso como alternativa estrutural e não oportunística", afirmou.
O lucro líquido da Vibra recuou 81,2% no segundo trimestre ante o mesmo período do ano anterior, para 133 milhões de reais, com a concorrência com o diesel russo sendo citada como negativa para a empresa.
RECONQUISTA DO MARKET SHARE
Pousada destacou que a empresa irá buscar recuperar participação de mercado perdida ao longo do segundo trimestre diante do produto russo, de maneira gradual, mas frisou que o foco da companhia é crescer ao longo do tempo o volume de vendas em atendimento direto a clientes.
"O grande impacto que nós tivemos definitivamente foi nas nossas margens e no 'market share'... O market share mais afetado foi no TRR (vendas para Transportador-Revendedor-Retalhista)", disse Pousada, apontando que o indicador recuou para 22%, ante 29,3% no primeiro trimestre e 32,7% no segundo trimestre de 2022.
Pousada destacou, entretanto, que a participação de mercado no atendimento direto ao consumidor teve um leve aumento para 30% no segundo trimestre, ante 29,7% no trimestre anterior e 28,8% um ano antes.
"Esse será o nosso foco cada vez mais, atender aos nossos clientes diretamente e crescer definitivamente nesse market share", afirmou.
NÃO FALTA PRODUTO
Pousada disse ainda que a companhia mantém estoques para atendimento de seus clientes, em volumes normais, ao ser questionado sobre o cenário atual, onde agentes de mercado têm apontado nos últimos dias restrições nas entregas de combustíveis em algumas bases de distribuição para os postos, diante de impactos de estratégia comercial da Petrobras.
"Não está faltando produto para a Vibra Energia e para seus clientes regulares", disse o CEO.
A Petrobras vinha mantendo preços em suas refinarias abaixo do mercado internacional, segundo cálculos do mercado, e anunciou mais cedo nesta terça-feira um aumento de 16,3% nos preços médios da gasolina e de 25,8% nos do diesel vendidos a distribuidoras, a partir de quarta-feira.
Pousada evitou fazer comentários mais detalhados sobre o movimento da petroleira, mas disse que o reajuste "encosta" na paridade internacional e que "certamente facilita a dar competitividade às importações".
O CEO ressaltou ainda que comprou volumes "expressivos" da Petrobras, que é o maior parceiro da Vibra, e que independentemente da estratégia comercial da estatal, a Vibra busca assegurar um avanço gradual de suas margens.
(Por Marta Nogueira; edição de Roberto Samora)
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