Taxas futuras de juros voltam a subir com receios sobre juros nos EUA e questão fiscal no Brasil

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos contratos futuros de juros fecharam a quinta-feira em alta no Brasil pela quarta sessão consecutiva, em especial na parte longa da curva a termo, em meio a receios de que os juros nos EUA podem subir novamente e à preocupação em torno do andamento do novo arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados.

Assim como no encerramento dos negócios na quarta-feira, a sessão desta quinta foi marcada pela avaliação de que o Federal Reserve poderá adotar juros mais elevados por mais tempo para segurar a inflação nos EUA.

Esta leitura teve como base a ata do último encontro do Fed, divulgada na véspera. O documento registrou que os dirigentes da instituição “permaneceram resolutos em seu compromisso de reduzir a inflação para a meta de ... 2%”.

Neste cenário, os rendimentos dos Treasuries sustentavam ganhos entre os contratos com prazos mais longos.

“O movimento dos juros no Brasil é bem semelhante ao dos EUA hoje (quinta-feira). Por lá, o rendimento do contrato de dois anos era negociado perto do zero, enquanto o de dez anos avançava”, pontuou durante a tarde o analista Lucas Serra, da Toro Investimentos.

“E o movimento lá fora tem bastante a ver com a divulgação da ata do Fed no pregão de ontem, que foi precificada hoje (quinta-feira) também. A ata trouxe uma preocupação a mais com a inflação neste ano”, acrescentou.

Os receios com a política monetária dos EUA se sobrepuseram ao noticiário chinês. Em um relatório sobre a implementação da política monetária chinesa no segundo trimestre, o Banco do Povo da China afirmou que "alavancará melhor as funções duplas das ferramentas agregadas e estruturais de política monetária e apoiará firmemente a recuperação e o desenvolvimento da economia real".

A indicação do BC chinês de que pretende dar suporte à recuperação econômica do país surge após o país apresentar, nos últimos dias, uma série de dados considerados fracos.

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Alguns analistas também viram efeitos do noticiário interno sobre a alta mais recente da curva a termo brasileira. No foco das atenções está a tramitação do novo arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados.

“O mercado está um pouco mais temerário em relação a como o governo vai lidar com a questão fiscal. As metas que o Ministério da Economia colocou para o primário estão difíceis de cumprir, e as conversas para resolver isso passam sempre pelo aumento de impostos”, comentou Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

“A demora para se concluir o arcabouço também deixa o mercado um pouco mais impaciente”, acrescentou.

O relator do arcabouço na Câmara, deputado federal Cláudio Cajado (PP-BA), disse nesta quinta-feira que a definição da data para a votação da matéria na Casa dependerá de uma reunião na residência do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), na próxima segunda-feira, com líderes partidários e representantes do governo federal.

O movimento desta quinta-feira, de relativa estabilidade na ponta curta e de alta na longa, representou uma maior inclinação na curva, com participantes do mercado enxergando, na prática, uma taxa básica um pouco mais elevada no médio e no longo prazo.

Para o próximo encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, marcado para setembro, a precificação seguiu indicando corte de meio ponto percentual da taxa básica Selic, hoje em 13,25% ao ano.

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Perto do fechamento, a curva a termo precificava apenas 9% de chances de o corte da Selic em setembro ser de 0,75 ponto percentual. Na quarta-feira, esta precificação era de 11%. Já as chances de corte de 0,50 ponto percentual seguem majoritárias, precificadas em 91%, contra 89% na sessão anterior.

Em entrevista ao site Poder360 nesta quinta-feira, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que a “barra” estabelecida pela instituição para fazer algo diferente de cortes de 0,50 ponto percentual na Selic à frente é “alta”. Na prática, ele reforçou a sinalização, presente nas comunicações mais recentes do BC, de que os próximos cortes devem ser de meio ponto percentual.

No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 12,445%, ante 12,452% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,54%, ante 10,515% do ajuste anterior. Na ponta longa, a taxa para janeiro de 2026 estava em 10,14%, ante 10,049% do ajuste anterior, e a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,345%, ante 10,233%.

Às 16:44 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- subia 3,80 pontos-base, a 4,2959%.

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