Taxas futuras de juros caem em sintonia com Treasuries, mas risco fiscal segura movimento

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos contratos futuros de juros fecharam a sexta-feira em baixa em toda a curva a termo, em sintonia com o recuo dos rendimentos dos Treasuries, em dia marcado pela aversão a ativos de risco no exterior, mas com investidores colocando no preço no Brasil preocupações em torno do andamento do novo arcabouço fiscal no Congresso.

Lá fora, os negócios do dia foram novamente permeados por preocupações em torno da política monetária dos EUA e da recuperação econômica da China, em especial do setor imobiliário.

Após o banco central do gigante asiático acenar com estímulos econômicos na quinta-feira, a Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China propôs nesta sexta-feira algumas medidas, incluindo cortar custos de negociação, apoiar recompras de ações e incentivar investimentos de longo prazo, para ajudar o mercado de ações.

Mas os anúncios até agora não foram suficientes para alterar uma avaliação mais negativa sobre a China e, de forma mais ampla, sobre a economia global.

Os receios de que o Federal Reserve possa subir mais os juros ou mantê-los em patamares elevados por mais tempo, para segurar a inflação, também contribuíam para a cautela nos negócios nesta sexta-feira.

Em reação, investidores buscaram a segurança dos Treasuries, o que fez os rendimentos dos títulos norte-americanos caírem. O movimento foi acompanhado pelas taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) no Brasil.

“Há esse alívio nos rendimentos dos Treasuries hoje (sexta-feira), e a gente traduz isso no Brasil com a queda dos juros”, pontuou Matheus Spiess, analista da Empiricus Research. “Mas nos vértices mais longos a queda não é tão grande. E eu leio isso como consequência do risco fiscal”, acrescentou.

Para Spiess, a demora na tramitação do novo arcabouço na Câmara dos Deputados elevou o risco fiscal. Nas sessões anteriores, aliás, analistas já haviam afirmado à Reuters que as negociações e os ruídos entre governo e parlamentares, em meio a pressões para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva incorpore membros do centrão ao governo, vinham dando suporte às taxas futuras.

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Com a queda desta sexta-feira, as taxas futuras interromperam uma sequência de quatro dias consecutivos de alta no Brasil. Ainda assim, a precificação na curva a termo para o próximo encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, em setembro, pouco se alterou.

Perto do fechamento, a curva a termo precificava apenas 5% de chances de o corte da Selic em setembro ser de 0,75 ponto percentual. Na quinta-feira, esta precificação era de 9%. Já as chances de corte de 0,50 ponto percentual seguem majoritárias, precificadas em 95%, contra 91% na sessão anterior. Atualmente, a taxa básica Selic está em 13,25% ao ano.

Durante a sessão, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, falou no Fórum Brasileiro de Inteligência Artificial, promovido pela Fundação Milton Campos, em São Paulo. A palestra, porém, foi uma espécie de “não evento” para o mercado de juros, porque o Campos Neto não tratou da política monetária, limitando-se a abordar temas ligados às novas tecnologias.

No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 12,435%, ante 12,446% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,535%, ante 10,544% do ajuste anterior. Na ponta longa, a taxa para janeiro de 2026 estava em 10,13%, ante 10,14% do ajuste anterior, e a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,33%, ante 10,35%.

No exterior, os rendimentos dos Treasuries seguiam em baixa no fim da tarde.

Às 16:39 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- caía 5,30 pontos-base, a 4,2546%.

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