Empresários de Cuba se preparam para impacto de salto do país em direção a economia "sem papel-moeda"

Por Nelson Acosta e Anett Rios e Carlos Carrillo

HAVANA (Reuters) - Quando Cuba anunciou no início de agosto que estava dando um passo importante em direção às transações eletrônicas e a uma sociedade "sem papel-moeda", escritórios de pequenas empresas incipientes em todo o país ficaram lutando para descobrir como reagir.

O mais alarmante para muitos empreendedores foi um novo limite diário de 5 mil pesos (20 dólares) para saques em dinheiro para empresas, uma das várias medidas que o governo disse ter como objetivo forçar os cubanos a fazer suas transações eletronicamente, por meio de transferências, pagamentos online e cartões.

As mudanças foram necessárias para conter a escassez de notas de dinheiro, disseram autoridades do banco central cubano, conforme a queda rápida do peso e a alta dos preços ao consumidor se combinaram para drenar as reservas bancárias e os caixas eletrônicos.

Mas preocupações com o impacto já estão causando dificuldades, disse Yulieta Hernandez, fundadora e gerente da Pilares Construction, uma construtora privada que emprega 60 pessoas.

"Entendemos que há uma crise e a necessidade de bancos, mas este é o nosso dinheiro", disse Hernandez. Seu negócio já adotou o banco digital, mas ela frequentemente precisa de acesso rápido a dinheiro para cobrir gastos emergenciais nos locais de trabalho, acrescentou.

Mesmo antes das novas restrições, os empresários cubanos enfrentavam obstáculos que podem parecer intransponíveis em qualquer outro lugar: eletricidade e internet irregulares, escassez generalizada de combustível e nenhuma maneira prática de trocar legalmente grandes quantidades de moeda local pelos dólares necessários para importar mercadorias do exterior.

Apenas três dias depois que as regras foram implementadas, disse Hernandez, novas más notícias chegaram: muitos de seus fornecedores, antes receptivos a transferências eletrônicas, agora aceitam apenas dinheiro, por medo de perder o acesso ao papel-moeda de que precisam para operar -- o contrário do que a legislação pretendeu.

A medida colocou empresas como a Pilares em uma situação difícil: elas precisam de dinheiro para operar, mas estão proibidas de fazer saques de maior valor de suas contas locais.

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DORES DA MODERNIZAÇÃO

As empresas privadas ressurgiram em Cuba há apenas dois anos, após décadas de banimento que na prática só não afetavam autorizações para aluguel de quartos para turistas e alguns outros serviços de pequena escala. Desde então, o governo deu sinal verde para o estabelecimento de milhares de pequenas empresas.

Para muitos cubanos nascidos e criados no comunismo após a revolução de Castro em 1959, isso representou uma grande mudança cultural, disse Leonardo Rodriguez, que dirige a Kaibocu, uma pequena empresa com sede em Havana que produz alimentos processados.

Rodriguez disse que ele e muitos outros empresários começaram a usar o banco eletrônico muito antes de as novas medidas serem anunciadas para cumprir as leis tributárias que evoluíram com o crescimento do setor privado.

Mas para muitas empresas menores e lojas familiares em Cuba, as formalidades dos negócios, como o pagamento de impostos, continuam sendo conceitos novos, disse ele.

“(Os cubanos) fazem negócios nas ruas há anos, sem nunca saber o que é um sistema tributário”, disse Rodriguez em entrevista em Havana, observando que a maioria operava ilegalmente ou à margem da economia formal.

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"Declarar nossas vendas, declarar nossa receita... esses conceitos são muito novos."

As autoridades cubanas disseram que as novas medidas bancárias são necessárias para a transparência, para garantir que as transações sejam registradas e os impostos, pagos.

((Tradução Redação São Paulo))

REUTERS BC IV

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