Ativistas ambientais pressionam órgão regulador dos EUA para suspender listagem da JBS

Por Ana Mano e Tom Polansek

SÃO PAULO/CHICAGO (Reuters) - Uma coalizão de grupos ambientalistas está pressionando o órgão regulador de valores mobiliários dos Estados Unidos para impedir a listagem de ações da JBS em Nova York devido a preocupações sobre o impacto das operações da maior processadora de carne do mundo no desmatamento e nas mudanças climáticas.

A JBS espera que uma listagem nos EUA atraia uma base de investidores mais ampla para dar à empresa mais acesso a capital de menor custo.

No entanto, grupos ativistas como a Rainforest Action Network, Mighty Earth e World Animal Protection enviaram este mês cartas à Securities and Exchange Commission (SEC, órgão que regula o mercado de capitais nos EUA) pedindo ao regulador que se oponha à oferta pública inicial (IPO) nos EUA ou investigue as informações contidas no prospecto da JBS.

"Este é provavelmente o IPO mais importante para o clima na história", disse Glenn Hurowitz, diretor executivo da Mighty Earth.

A destruição de florestas tropicais, que funcionam como sumidouros de carbono, ameaça as metas climáticas globais.

A JBS disse que sua proposta de listagem "aumentará a governança corporativa e a transparência por meio da adesão aos padrões da SEC". Também disse que espera colaborar com organizações não governamentais.

Há tempos, ativistas acusam a JBS de ameaçar o meio ambiente e explorar trabalhadores. A pecuária, juntamente com o desmatamento para venda de madeira ou cultivo de alimentos, está impulsionando o destruição da floresta amazônica. A indústria da carne bovina diz que a maior parte do desmatamento é feita por criminosos.

A World Animal Protection disse à SEC que a JBS, que compra grãos para alimentação de rebanhos comerciais, não identificou adequadamente a agricultura como um fator de risco relevante para o desmatamento em seu prospecto.

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Em resposta, a SEC disse que as preocupações da World Animal Protection "serão cuidadosamente consideradas à luz das responsabilidades gerais de aplicação pela Comissão das leis federais de valores mobiliários dos EUA", de acordo com o grupo.

A SEC se recusou a comentar.

No ano passado, uma auditoria de procuradores descobriu que quase 17% do gado comprado pela JBS no Estado do Pará, na Amazônia, de julho de 2019 a junho de 2020, supostamente vinha de fazendas com "irregularidades", como desmatamento ilegal. Na época, a JBS disse que os problemas que levaram às compras haviam sido resolvidos.

"No prospecto não há um roteiro claro para realmente garantir que a JBS não esteja envolvida no desmatamento”, disse Merel van der Mark, coordenadora da Rainforest Action Network.

A JBS disse que está usando tecnologia blockchain para monitorar os fornecedores de seus fornecedores de gado. A partir de janeiro de 2026, apenas produtores cadastrados em sua ferramenta blockchain poderão continuar fazendo negócios com a JBS, afirmou a empresa.

A companhia espera concluir sua listagem nos EUA até o final do ano.

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Assim que a SEC confirmar que a listagem pretendida pela JBS está em conformidade com as regulamentações de valores mobiliários dos EUA, e não tiver comentários adicionais, a empresa poderá submeter a proposta à aprovação dos acionistas.

A listagem da JBS nos EUA está em andamento há cerca de uma década, mas foi adiada em parte devido ao escândalo de corrupção corporativa no Brasil em 2017 e novamente em meio à pandemia. 

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