Taxas futuras têm queda firme com influência de marco fiscal e Treasuries

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos contratos futuros de juros tiveram queda firme na sessão desta quarta-feira, em especial na ponta longa, após a aprovação definitiva do novo arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados e a melhora da percepção no exterior, onde a curva de juros norte-americana também cedia.

Na noite de terça-feira, a Câmara aprovou o novo marco fiscal, dando fim a negociações entre governo e parlamentares que se arrastavam há semanas. O texto segue agora à sanção presidencial.

Com a aprovação, dois fatores impactaram os mercados nesta quarta-feira: o fato de a votação ter sido concluída, após semanas de adiamentos; e a retirada de pontos do texto vindo do Senado que abriam margem a mais gastos do governo.

Os dois fatores foram considerados positivos e favoreceram o fechamento da curva de juros, em um dia em que o dólar à vista também reagiu positivamente à aprovação, com queda superior a 1% ante o real.

“A Câmara tornou o arcabouço mais conservador”, resumiu Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research.

Os parlamentares excluíram do texto final o dispositivo que alterava o cálculo do prazo da inflação para abrir espaço de até 40 bilhões de reais no Orçamento de 2024, o que foi bem recebido pelo mercado.

Na tarde desta quarta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou a aprovação do novo marco fiscal que, segundo ele, encaminha o país para um cenário de equilíbrio fiscal. Porém, o próprio ministro indicou que 2024 “não será um ano fácil”.

"Obviamente que (2024) não será um ano fácil para nós, é muito desafiador o que estamos nos colocando", disse Haddad, durante entrevista coletiva em Johanesburgo, onde acompanha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cúpula do Brics. A meta do governo para o próximo ano é de zerar o déficit fiscal.

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Além do impulso interno, a curva a termo repercutiu nesta quarta-feira a queda firme dos rendimentos dos Treasuries, após a divulgação de dados fracos da atividade empresarial nos EUA.

A S&P Global informou que seu Índice de Gerentes de Compras (PMI) Composto dos EUA, que acompanha os setores de manufatura e serviços, caiu para 50,4 em agosto, de 52 em julho, na maior baixa desde novembro de 2022. Na prática, a atividade empresarial aproximou-se em agosto da estagnação, com o crescimento no ritmo mais fraco desde fevereiro.

Os números norte-americanos -- somados às dificuldades recentes na China e na Europa -- elevaram a percepção de que a inflação nos EUA pode desacelerar a ponto de o Federal Reserve manter sua taxa de referência no patamar atual, na faixa de 5,25% a 5,50%, ou começar a cortá-la antes do previsto. Neste contexto, os rendimentos dos Treasuries despencaram.

“Toda a curva está baixando, mas principalmente nos vértices mais longos, onde houve um estresse grande na semana passada. E quando a curva baixa lá fora, isso ajuda bastante na queda dos juros no Brasil”, pontuou Quaresma, da Empiricus.

No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 12,405%, ante 12,424% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,43%, ante 10,536% do ajuste anterior. Na ponta longa, a taxa para janeiro de 2026 estava em 10,01%, ante 10,161% do ajuste anterior, e a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,195%, ante 10,371%.

Perto do fechamento desta quarta-feira, a curva a termo brasileira precificava 14% de chances de o corte da Selic em setembro ser de 0,75 ponto percentual. Já as chances de corte de 0,50 ponto percentual seguem majoritárias, precificadas em 86%. Atualmente, a taxa básica Selic está em 13,25% ao ano.

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No exterior, os rendimentos dos Treasuries de 10 anos seguiam em queda firme, superior a 10 pontos-base.

Às 16:37 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- caía 14,00 pontos-base, a 4,1879%.

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