Mostrar esforço fiscal é importante mesmo que déficit não seja zero em 2024, diz Campos Neto

(Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou em entrevista à Veja que mesmo que o déficit das contas federais não seja zerado em 2024 é importante o governo mostrar que está fazendo um esforço nesse sentido, defendendo que também entre em debate uma reavaliação dos gastos públicos.

Campos Neto destacou que há incerteza no mercado sobre a capacidade do governo em promover um ajuste fiscal, mas reconheceu o empenho da equipe econômica.

"Mesmo não sendo zero, se o governo mostrar que fez um esforço de ir nessa direção, eu acho que ganha um tempo", disse o presidente do BC na entrevista, que foi gravada na segunda-feira -- de acordo com a assessoria do BC -- e publicada nesta sexta.

Para atingir esse objetivo em 2024, Campos Neto disse que será necessário aprovar medidas para aumentar a arrecadação. Ele acrescentou que o governo precisa "enfrentar o fato de o Brasil apresentar um elevado aumento de gastos" para que o novo arcabouço fiscal funcione a longo prazo.

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem enfrentando dificuldades para colocar em prática toda a agenda de ajuste fiscal proposta, com atraso na apresentação de medidas e iniciativas travadas pelo Congresso. A equipe econômica tem afirmado, porém, que mantém o compromisso de equilibrar o Orçamento em 2024 e tem medidas de receitas alternativas que ainda poderão ser apresentadas.

Na entrevista, o presidente do BC também voltou a dizer que a luta contra a inflação não está ganha, destacando que a alta dos preços no setor de serviços ainda não está no patamar em que a autoridade monetária gostaria.

Ao ser questionado se pode-se esperar mais cortes futuros na Selic, ele respondeu: "Foi consenso absoluto que o ritmo para quedas e elevações deve ser sempre de meio ponto. A luta contra a inflação não está ganha".

"Uma parte dela se situa ainda bastante acima da meta. O setor de serviços apresenta melhora, mas não no patamar que gostaríamos. Esse cenário demanda um ambiente de juros restritivos. O tamanho do aperto, na verdade, vai depender do desenrolar da economia", completou ele.

No começo de agosto, o BC reduziu a taxa básica de juros Selic em 0,50 ponto percentual a 13,25% ao ano, em decisão que dividiu os membros de sua diretoria em 5 a 4. A autoridade monetária ainda sinalizou novos cortes equivalentes nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).

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"Na reunião anterior do Copom, já havia uma divisão em torno do que sinalizar em relação ao próximo encontro. Discutiu-se se íamos deixar a porta aberta, indicando uma queda futura, ou fechada, sem apontar nada nessa direção", explicou Campos Neto à Veja.

"Eu estava no primeiro grupo, porque a inflação à época já revelava melhora. A divergência seguiu parecida entre os conselheiros. Os que queriam a porta aberta lá atrás, como eu, foram os mesmos que defenderam agora o corte de meio ponto na Selic", completou.

(Por Bernardo Caram, em Brasília, e Camila Moreira, em São Paulo)

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