Taxas futuras de juros caem no Brasil com dados fracos da economia dos EUA

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos contratos futuros de juros fecharam a terça-feira em queda no Brasil, em sintonia com a queda dos rendimentos dos Treasuries no exterior, após dados fracos da economia norte-americana reforçarem percepção de que o Federal Reserve pode ser menos rígido em sua política monetária.

Pela manhã, o Departamento do Trabalho dos EUA informou que as vagas de emprego caíram em 338.000 no último dia de julho, para 8,827 milhões, o nível mais baixo desde março de 2021. Economistas consultados pela Reuters projetavam 9,465 milhões de vagas de emprego em julho.

Já o Conference Board informou que seu índice de confiança do consumidor norte-americano caiu para 106,1 em agosto, de 114,0 em julho, em dado revisado para baixo. Os economistas consultados pela Reuters projetavam que o índice recuaria para 116,0, em relação aos 117,0 relatados anteriormente. A queda apagou os aumentos consecutivos registrados em junho e julho.

Os dois dados -- de emprego e de confiança -- colocaram os rendimentos dos Treasuries em queda firme, em meio à leitura de que o Fed tende a interromper o processo de alta de juros. No Brasil, as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) acompanharam o movimento.

“A curva de longo prazo nos EUA, nos contratos de 10 anos, está trabalhando em queda. Na curva de curto prazo temos a mesma coisa. Como estávamos tendo um estresse com a curva de juros norte-americana para cima, puxando a nossa curva também, hoje (terça-feira) a curva vem devolvendo (taxas)”, comentou Helder Wakabayashi, analista da Toro Investimentos.

Internamente, as atenções se voltam para o projeto do Orçamento de 2024, que deve chegar ao Congresso na quinta-feira. Em entrevista a jornalistas, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o projeto será “equilibrado”, com receitas primárias iguais a despesas primárias, além de trazer medidas novas.

O governo trabalha com previsão de resultado primário zero para 2024.

Na sessão desta terça-feira, a queda das taxas futuras também foi favorecida pela apresentação na véspera, pelo governo, da medida provisória (MP) que institui uma tributação periódica sobre os rendimentos de fundos exclusivos de investimento. Com isso, o governo espera arrecadar 3,2 bilhões de reais neste ano. Segundo o Planalto, a previsão é que a receita com a medida alcance 24 bilhões de reais no acumulado de 2023 a 2026.

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Na segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também assinou o projeto de lei da tributação das offshores. Por ela, a pessoa física com renda no exterior de até 6.000 reais por ano estará isenta. Já o rendimento entre 6.000 reais e 50.000 reais por ano ficará sujeito a uma alíquota de 15%, enquanto na renda superior a 50.000 haverá cobrança de 22,5%.

Para o economista-chefe do banco Bmg, Flavio Serrano, as propostas vão na direção de “melhorar o resultado fiscal”, o que foi bem recebido pelo mercado. “A meta de resultado zero em 2024 é bastante desafiadora”, pontuou.

Durante a tarde, o Tesouro informou que a dívida pública federal caiu 0,80% em julho ante junho, para 6,142 trilhões de reais. Os números não fizeram preço.

No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 12,395%, ante 12,405% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,475%, ante 10,526% do ajuste anterior. A taxa para janeiro de 2026 estava em 9,99%, ante 10,078%. Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,115%, ante 10,216%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 10,39%, ante 10,496%.

Perto do fechamento a curva a termo precificava apenas 4% de chances de o corte da Selic em setembro ser de 0,75 ponto percentual. Já as chances de corte de 0,50 ponto percentual eram precificadas em 96%.

No exterior, a curva norte-americana seguia fechando.

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Às 16:38 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- caía 9,80 pontos-base, a 4,1139%.

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