Campos Neto defende meta fiscal do governo e diz que juro dos EUA pode afetar fluxos para o Brasil à frente

(Reuters) - O Banco Central tem apoiado o governo no sentido de persistir na busca pela meta de resultado fiscal, disse nesta segunda-feira o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, ressaltando que a autoridade monetária está de olho na estabilização da trajetória da dívida pública.

Falando em evento da Associação Brasileira de Câmbio (Abracam), Campos Neto também afirmou que a manutenção dos juros dos Estados Unidos em patamar elevado pode estimular a saída de recursos do Brasil, mas ponderou que esse não é o cenário base do BC.

"A gente precisa observar esses projetos que estão no Congresso, eles precisam passar, porque aí traz uma arrecadação adicional e estabiliza... No final das contas, o que a gente está olhando no médio e no longo prazo é a estabilidade da trajetória de dívida, isso é muito importante persistir", afirmou.

Campos Neto reafirmou que o Brasil tem dificuldade estrutural de cortar gastos públicos e defendeu que "reformas adicionais" podem ajudar a cortar despesas no país.

O novo arcabouço fiscal, proposto e aprovado neste ano pelo governo em substituição ao teto de gastos, estabelece uma meta de déficit primário zero em 2024, objetivo que levantou questionamentos de agentes de mercado por depender da aprovação de uma série de ações para elevar a arrecadação.

De 2014 a 2021 o governo federal registrou sucessivos déficits fiscais, o que levou a dívida pública a uma trajetória de elevação. Esse movimento de alta foi intensificado em 2020 com os gastos para enfrentamento da pandemia de Covid-19, e depois passou a cair.

Neste ano, em meio à aprovação de gastos adicionais pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva e ao aumento dos juros, a dívida bruta do governo voltou a subir, passando de 72,6% do Produto Interno Bruto (PIB) em janeiro, para 74,4% do PIB em agosto.

O presidente do BC disse, no evento em São Paulo, que o tema das contas públicas vai começar a ser mais relevante para o mundo desenvolvido, com a "barra para o fiscal" ficando mais elevada em todos os lugares do mundo, como consequência.

Ainda em relação ao cenário externo, ele afirmou que o diferencial entre as taxas de juros nos EUA e no Brasil não gera saída de recursos do país neste momento. Ele ponderou que, se os juros longos norte-americanos permanecerem altos, pode haver uma aceleração do fluxo de saídas, embora esse não seja o cenário base considerado pelo BC.

Continua após a publicidade

Na apresentação, Campos Neto disse que o real teve desempenho "relativamente bom" em 2023.

Campos Neto afirmou ainda que a dinâmica da inflação no Brasil é benigna, em geral, destacando comportamento positivo recente em preços de alimentos e bebidas.

Ele disse que as expectativas de inflação de 2023, 2024 e 2025 têm ficado mais ou menos dentro da banda das metas, e ponderou que uma volatilidade recente nessas projeções tem maior relação com fatores externos.

O centro do objetivo oficial para a inflação em 2023 é de 3,25% e, para 2024, 2025 e 2026, é de 3,00%, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

(Por Fernando Cardoso, em São Paulo, e Bernando Caram, em Brasília)

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.