BC ainda tem de percorrer última milha para reancoragem de expectativas de inflação, diz Galípolo
SÃO PAULO (Reuters) - O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse nesta quinta-feira que a autoridade monetária ainda tem que percorrer uma "última milha" para conseguir a reancoragem total das expectativas de inflação, classificando o cenário inflacionário no país de "benigno" mas "persistente".
Falando em fórum sobre fundos imobiliários, em São Paulo, Galípolo disse ainda que o cenário externo requer "humildade" da autoridade monetária.
"A gente ainda tem uma reancoragem parcial dentro da meta. A gente segue a meta de 3,0% para 2025 e 2026, então o Banco Central ainda tem essa última milha para conseguir a reancoragem total", disse Galípolo.
Ele destacou que as expectativas para 2025 ainda estão elevadas. Segundo o relatório Focus do BC, a mediana das projeções dos economistas para o ano -- e também para 2026 -- está em 3,5%, acima da meta central de 3%.
O diretor ainda destacou o cenário externo desafiador para o Brasil, apontando que acontecimentos relevantes nos últimos anos, como a pandemia da Covid-19 e a guerra na Ucrânia, têm gerado impactos na economia mundial que muitos países ainda estão tentando mensurar.
"É preciso ter humildade agora perante os dados para poder reagir muito em função do que os dados apresentam", disse o diretor.
No entanto, ele enfatizou que, apesar de o cenário atual de valorização do dólar e taxas de juros altas ao redor do mundo normalmente não ser positivo para economias emergentes, o Brasil está em uma posição privilegiada por contar com reservas internacionais "robustas".
"O Brasil tem uma posição bastante privilegiada do ponto de vista de ter reservas internacionais bem robustas, o que nos confere uma proteção significativa", disse.
Galípolo também comentou o ritmo de queda da taxa Selic imposto pelo BC, afirmando que os cortes contínuos de 0,5 ponto percentual permitem "ajustar" a política monetária e observar a reação da economia em relação a esses movimentos.
"A gente tem espaço para ajustar o nível de contração da política monetária, por isso que a gente iniciou o ciclo de corte, e permanecendo em uma zona contracionista para migrar para a meta (de inflação)."
A taxa Selic se encontra atualmente no patamar de 12,75%.
Ao ser questionado sobre a meta estabelecida pelo governo federal de zerar o déficit primário no próximo ano, Galípolo disse que é razoável assumir que está no preço dos mercados um déficit de 0,8% do PIB, como apontado nas estimativas do relatório Focus, mas ponderou que gatilhos previstos no arcabouço fiscal serão implementados caso a meta não seja alcançada
Ele observou que a discussão no país agora deve ser de como obter crescimento duradouro e estável, com inflação dentro da meta e um patamar de taxa de juros que permita desenvolvimento.
(Por Fernando Cardoso e Eduardo Simões)
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