EUA enfrentam resistência a plano de reforçar financiamento do FMI sem mudanças acionárias

Por David Lawder

WASHINGTON (Reuters) - Os Estados Unidos enfrentam uma difícil batalha para persuadir outros países membros do Fundo Monetário Internacional (FMI) a expandirem os recursos de reserva de empréstimos do fundo sem aumentar as participações acionárias de China, Índia e Brasil, disseram autoridades governamentais e especialistas em desenvolvimento.

Enquanto os responsáveis financeiros globais se preparam para se reunir em Marrakesh, no Marrocos, para as reuniões anuais do FMI e do Banco Mundial da próxima semana, onde se espera que uma revisão dos recursos das cotas do FMI seja um tema controverso, alguns já antecipam mais um atraso na tomada de decisões.

“Aumentos de cotas sem realinhamento enfraqueceriam politicamente o Fundo”, disse uma autoridade brasileira à Reuters, acrescentando que o Brasil, a China e a Índia merecem um papel maior no FMI, proporcional à sua crescente estatura na economia global.

As cotas contribuídas pelos países membros em proporção ao seu poder de voto representam agora mais de 40% do poder de fogo de 1 bilhão de dólares do fundo, que foi sobrecarregado pelos anos da pandemia de Covid-19, inflação, impactos das mudanças climáticas e repercussões da guerra da Rússia na Ucrânia.

O resto do financiamento é constituído por promessas de capital de emergência e empréstimos bilaterais, fontes consideradas menos confiáveis.

O aumento das cotas permitiria aos países em desenvolvimento acessar empréstimos maiores e proporcionaria mais segurança do que os atuais acordos. O FMI argumenta que o aumento dos recursos é “vital” para salvaguardar a economia global contra choques futuros.

As cotas não são aumentadas desde 2010, uma medida que deu maior voz à China, ao Brasil e a outras economias de mercado emergentes em rápido crescimento, à custa dos países europeus.

Caso isso se repita, a China provavelmente veria o maior aumento, uma vez que controla apenas 6,08% do poder de voto do FMI, mas representa 18% do produto interno bruto global com base nas estimativas do próprio fundo. Os EUA são de longe o maior acionista do FMI, com 16,5% do poder de voto.

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Mas com o sentimento anti-China firmemente enraizado no Congresso dos EUA, qualquer movimento para aumentar a participação do gigante asiático causaria uma reação política para o presidente dos EUA, Joe Biden, que busca sua reeleição no próximo ano.

O plano que a Secretaria do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, vai promover nas reuniões do Marrocos, faria com que os países contribuíssem com novo dinheiro proporcionalmente às suas atuais cotas, com alterações à fórmula vindo posteriormente. 

Como incentivo para os mercados emergentes, os EUA propõem adicionar um quinto diretor-geral adjunto para representar os interesses dos países de renda média, e outro membro do Conselho Executivo para representar mais países da África Subsariana.

Fazer isso, disse na quinta-feira o presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, "aumentaria a voz e a agência dos países membros que são os mais vulneráveis" no Fundo.

(Reportagem de David Lawder; reportagem adicional de Andrea Shalal, em Washington, e Marcela Ayres, em Brasília)

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