Haddad defende "multilateralismo do Século 21" em Marrakech e diz que Brasil colocou a casa em ordem

(Reuters) - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu nesta sexta-feira em discurso em Marrakech, no Marrocos, um "multilateralismo do Século 21", afirmando que a presidência brasileira do G20 no ano que vem buscará a reforma dos organismos multilaterais de governança global.

Em sua fala na cidade que recebe o encontro atual do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI), Haddad também afirmou que o Brasil colocou a casa em ordem neste ano, com a aprovação pelo Congresso de um novo marco fiscal e o avanço de uma proposta de reforma tributária, que tramita atualmente no Senado.

"A maior parte das instituições e práticas de governança global parecem estar presas ao século 20, refletindo um mundo que já não existe mais", disse Haddad, ao destacar o papel do G20 na reforma da governança econômica global.

"As instituições financeiras internacionais precisam ser mais ambiciosas e representativas da realidade mundial no nível político, e mais poderosas, ágeis e eficientes no nível técnico", acrescentou em seu discurso feito em inglês, mas cuja versão em português foi divulgada pelo ministério.

Na quarta-feira, Haddad já havia defendido em declaração em Marrakech uma ampliação da participação acionária de países em desenvolvimento no Fundo Monetário Internacional para espelhar a atual realidade econômica global, afirmando haver membros sub-representados no organismo.

Ao longo do encontro, no entanto, aumentou o apoio à proposta dos Estados Unidos de uma ampliação dos aportes dos países ao FMI sem mudanças na participação acionária do Fundo -- que favoreceriam também a China --, com França, Reino Unido e Bélgica entre os países que se manifestaram a favor dessa solução.

"Precisamos urgentemente melhorar as nossas instituições financeiras internacionais, fazer com que os mais ricos paguem sua justa cota de impostos, tratar do problema da dívida em um número crescente de países da África, Ásia e América Latina, e, de maneira eficiente, mobilizar recursos públicos e privados para uma economia global mais verde e sustentável", disse Haddad.

Ao apresentar as prioridades do Brasil para o período em que presidirá temporariamente o G20, bloco que classificou como "talvez o único fórum global com capacidade para promover o multilateralismo do Século 21", Haddad afirmou ainda que o combate à fome e a inclusão social também estarão no topo da agenda brasileira para o G20 em 2024.

"Em primeiro lugar, o Brasil trabalhará para promover a inclusão social e combater a fome em todo o mundo. Em segundo lugar, propomos um foco específico na transição energética e no desenvolvimento sustentável levando em conta todos os seus três pilares -- social, econômico e ambiental. Em terceiro e último lugar, queremos avançar na reforma das instituições de governança global", elencou.

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Ao falar sobre a agenda doméstica do Brasil, Haddad disse que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou este ano para "colocar a casa em ordem", com o avanço em reformas, a aprovação do arcabouço fiscal, a redução do desmatamento e expansão de programas sociais. Segundo o ministro, isso permitiu que o Brasil retomasse um papel ativo no cenário internacional.

"Agora, o Brasil está pronto para se voltar aos desafios globais e promover um diálogo construtivo e produtivo em direção ao multilateralismo do Século 21."

(Por Eduardo Simões, em São Paulo)

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