Taxas futuras de juros sobem com dados do varejo nos EUA e receios com Oriente Médio

SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos contratos de DIs (Depósitos Interfinanceiros) fecharam a terça-feira em alta no Brasil, puxadas pelo avanço da curva de juros nos EUA, após as vendas no varejo do país superarem as expectativas e em meio ao temor de uma escalada no conflito do Oriente Médio.

Pela manhã, as taxas futuras chegaram a demonstrar certa acomodação, oscilando muito próximas da estabilidade, após o recuo da véspera. Mas a divulgação dos números do varejo norte-americano elevou a percepção de que o Federal Reserve poderá manter os juros nos EUA em níveis elevados por mais tempo.

O Departamento do Comércio informou que as vendas no varejo aumentaram 0,7% em setembro, após alta de 0,8% em agosto, em dado revisado para cima. Economistas consultados pela Reuters projetavam elevação de 0,3% nas vendas no mês passado.

Os números impulsionaram os rendimentos dos Treasuries, o que se refletiu no avanço dos juros futuros também no Brasil.

“O dado de varejo veio consideravelmente acima do esperado. Juntamente com o CPI (índice de preços ao consumidor), que saiu na semana passada, o número reforça a ideia de uma taxa de juros permanecendo alta por muito mais tempo nos EUA”, comentou Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research.

“Temos mais um dia de pressão sobre as curvas dos Treasuries, e vemos nossa curva de DIs acompanhando”, acrescentou.

Além do cenário para a economia norte-americana, as curvas de juros refletiam nesta terça-feira temores de que o conflito entre Israel e Hamas no Oriente Médio possa envolver outros países, ampliando a pressão de alta sobre o petróleo, com reflexos para a inflação.

Se na segunda-feira havia certa expectativa de que uma saída diplomática poderia ser alcançada -- o que abriu espaço para uma busca por ativos de maior risco -- nesta terça a visão sobre o conflito era mais pessimista.

“O mundo está receoso com o conflito, com o possível envolvimento de outros países, numa escalada maior. Todos estão observando muito de perto a questão das commodities”, pontuou Leandro Ormond, analista de investimentos da Aware Investments.

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Durante a tarde, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, reconheceu que o conflito entre Israel e Hamas acentua a atenção da autarquia quanto ao preço do petróleo e à cotação do dólar. Uma das preocupações é justamente se o conflito vai extrapolar para algo mais global, com efeitos sobre a política monetária brasileira.

De acordo com Ormond, o cenário externo -- marcado nesta terça-feira pelos dados dos EUA e pelas preocupações com o Oriente Médio -- ofuscou a divulgação de dados econômicos no Brasil.

Pela manhã, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o volume de serviços prestados no país recuou 0,9% em agosto ante julho, abaixo da projeção de alta de 0,4% na pesquisa Reuters.

“Os serviços vieram abaixo da expectativa no Brasil, mas isso foi ignorado pela curva de juros. Era de se esperar que houvesse uma expectativa de menos juros, o que não aconteceu”, disse Ormond.

No fim da tarde, a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 11,04%, ante 10,918% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 10,89%, ante 10,697% do ajuste anterior.

Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,07%, ante 10,882%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 11,32%, ante 11,142%.

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Perto do fechamento a curva a termo precificava em 94% as chances de o corte da taxa básica Selic em novembro ser de 0,50 ponto percentual. Já as chances de corte de apenas 0,25 ponto percentual -- uma possibilidade surgida após o rali mais recente -- eram precificadas em 6%. Atualmente, a Selic está em 12,75% ao ano.

No exterior, os rendimentos dos Treasuries seguiam em alta no fim da tarde.

Às 16:38 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- subia 12,40 pontos-base, a 4,8341%.

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