Taxas futuras de juros sobem com Treasuries, mas fala de Campos Neto segura movimento
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos contratos futuros de juros fecharam a quarta-feira em alta, em sintonia com o avanço dos rendimentos dos Treasuries no exterior, embora o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tenha enfraquecido o movimento, ao esclarecer questão que vinha gerando ruído no mercado e reiterar que o ritmo de cortes de 0,50 ponto percentual da Selic é o mais apropriado.
Pela manhã, as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) tinham alta firme no Brasil, na esteira do avanço dos rendimentos dos Treasuries, após os EUA divulgarem novos dados econômicos positivos.
O Departamento do Comércio informou que o início de construção de moradias unifamiliares, que representa a maior parte da construção de residências no país, aumentou 3,2%, atingindo uma taxa anual ajustada sazonalmente de 963.000 unidades em setembro. O dado apontou para uma economia resiliente, reforçando os temores de que o Federal Reserve não reduzirá suas taxas de juros tão cedo.
As taxas dos contratos futuros de juros, no entanto, perderam força e viraram para o negativo no Brasil durante a tarde. O movimento ocorreu após Campos Neto, em evento do Credit Suisse em São Paulo, afirmar que em nenhum momento, em sua viagem recente ao Marrocos, disse que a probabilidade de a autarquia desacelerar o ritmo de cortes da taxa básica Selic para 0,25 ponto percentual era maior que a de acelerar o ritmo para 0,75 ponto percentual.
Ele qualificou como "ruído" uma interpretação dada à questão a partir de notícia que citou como fontes participantes de evento fechado à imprensa do qual Campos Neto participou por ocasião da reunião anual do Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial.
"Uma das falas em Marrocos gerou um ruído lá, sobre um tema de qual era o balanço de riscos e o que a gente entendia que era a probabilidade de 25 ou 75 (pontos-base de corte da Selic). Eu em nenhum momento falei nada nem remotamente parecido com o que foi interpretado... (de que) uma probabilidade de uma coisa era maior que a outra", afirmou.
De acordo com Campos Neto, houve de fato uma piora adicional no cenário internacional -- um dos fatores do balanço de riscos considerado pelo BC. Ele confirmou que a piora diminuía a probabilidade de um corte de 75 pontos-base da Selic, mas que isso não significa chances maiores de corte de 25 pontos-base.
"Quando muda a distribuição de 75, obviamente muda a distribuição do 25 também, mas em nenhum momento a gente falou que uma coisa era mais provável que a outra", afirmou o presidente do BC, reiterando a perspectiva de corte de 0,50 ponto percentual da Selic no próximo encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), em novembro. Atualmente, a taxa básica está em 12,75% ao ano.
De acordo com o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, os comentários de Campos Neto geraram um ajuste na curva a termo brasileira.
“Circulou que Campos Neto teria aventado corte de 0,25 (ponto percentual) da Selic, mas em nenhum momento ele cogitou isso. Hoje ele desmentiu isso e reafirmou o passo de (corte de) 0,50”, comentou Rostagno.
O efeito dos comentários de Campos Neto diminuiu no fim da sessão e as taxas dos DIs voltaram para o positivo, novamente com o exterior pesando nos negócios.
No fim da tarde, a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 11,085%, ante 11,043% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 10,975%, ante 10,896% do ajuste anterior.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,13%, ante 11,081%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 11,355%, ante 11,331%.
Perto do fechamento a curva a termo precificava em 97% as chances de o corte da taxa básica Selic em novembro ser de 0,50 ponto percentual. Já as chances de corte de apenas 0,25 ponto percentual eram precificadas em 3% -- ante 6% no final da terça-feira.
No exterior, os rendimentos dos Treasuries seguiam em alta no fim da tarde.
Às 16:43 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- subia 4,90 pontos-base, a 4,8957%.
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