Campos Neto vê espaço para BC manter cortes de juros, mas cita incerteza

BRASÍLIA (Reuters) -A inflação no Brasil surpreendeu para baixo, o que abre espaço para o Banco Central baixar os juros e continuar perseguindo a convergência de preços para as metas, disse nesta terça-feira o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, ponderando que o jogo da política monetária ainda não está ganho e há incertezas no ambiente.

Em evento da Frente Parlamentar do Empreendedorismo, Campos Neto disse que o BC tem comunicado que vê espaço para cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões, o que "significa sempre duas reuniões à frente", ressaltando que "por ora a gente consegue seguir com esse espaço".

"A gente tem de fato uma inflação que está convergindo para o que o Banco Central esperava, nesse último número a inflação cheia veio um pouquinho acima, mas o qualitativo da inflação tem sido benigno, então a gente entende que, por ora, consegue seguir com esse espaço (para corte de juros). O problema não é nem tanto o espaço, mas a incerteza", afirmou.

Ele ponderou que "obviamente tudo sempre pode ser reconsiderado na reunião" do Comitê de Política Monetária (Copom), agendada para a próxima semana.

"O Brasil tem uma convergência de inflação hoje que é melhor do que grande parte dos países, inclusive nossa inflação de serviços ficou abaixo da dos Estados Unidos pela primeira vez em muitos anos, o que abre espaço para o BC cair os juros e continuar perseguindo essa convergência. A gente entende que o processo de desinflação não está ganho, mas está se encaminhando conforme o esperado", disse.

Campos Neto ressaltou que, da última reunião do Copom até agora, houve uma mudança marginal na perspectiva do cenário global, que aparentemente começou a "engatar desaceleração".

O presidente da autoridade monetária afirmou que o ambiente externo mostra que economias avançadas precisarão manter juros elevados por mais tempo, o que gera redução de liquidez global e tem impacto sobre países emergentes.

Na apresentação, ele disse que é importante que o país passe uma mensagem de consolidação fiscal, destacando que o ano de 2024 terá desafios nessa área por ser difícil cortar gastos. E ponderou que medidas para ampliar a arrecadação ainda serão analisadas pelo Congresso.

O presidente do BC não comentou diretamente o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre, divulgado nesta terça-feira, mas afirmou que a atividade tem surpreendido positivamente, o que pode ser explicado pelo efeito cumulativo de reformas feitas no país nos últimos anos.

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Ele enfatizou que alguns impulsionadores do crescimento deste ano não estarão presentes em 2024, como impulso fiscal, pujança do agronegócio e ganho de salários reais com o recuo da inflação. E ponderou que há perspectiva para um aumento dos investimentos no país.

Campos Neto disse ainda que fez videoconferência com ministros indicados para o novo governo da Argentina e que para o Brasil é importante que o país vizinho dê certo.

(Por Bernardo CaramEdição de Isabel Versiani e Camila Moreira)

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