PIB do Brasil mostra resiliência no 3º trimestre ao evitar retração, mas perde força

Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier

SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - A economia brasileira permaneceu em território positivo no terceiro trimestre e contrariou expectativas de retração, com a resiliência de serviços compensando a pressão do setor agrícola e a queda dos investimentos, mas ainda assim marcou o resultado mais fraco desde o final de 2022 após mostrar força na primeira metade do ano.

A perda do dinamismo da atividade no segundo semestre já era esperada diante dos efeitos defasados dos juros altos e da dissipação do choque positivo da agricultura, que foi limitado ao primeiro trimestre e início do segundo.

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou expansão de 0,1% no terceiro trimestre na comparação com os três meses anteriores, marcando o terceiro trimestre seguido de expansão depois de queda de 0,1% nos últimos três meses do ano passado.

A taxa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira contrariou a expectativa de economistas apontada em pesquisa da Reuters de uma queda de 0,2%.

No primeiro trimestre, a economia teve avanço de 1,4%, enfraquecendo a 1,0%% no segundo, em dados revisados pelo IBGE de altas de 1,8% e 0,9% informadas antes, respectivamente.

"Apesar da surpresa, não estou convencido que os números alteram o cenário de atividade fraca. Olhando os dados de oferta de forma desagregada, o recuo dos investimentos e das importações, pela ótica da demanda, me fazem crer que os dados são mais condizentes com um cenário de PIB fraco", avaliou Nicolas Borsoi, economista-chefe da corretora Nova Futura.

Na comparação com o terceiro trimestre de 2022, o PIB teve alta de 2,0%, contra expectativa de 1,9% nessa base de comparação.

O PIB opera agora 7,2% acima do nível pré-pandemia, no quarto trimestre de 2019.

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No terceiro trimestre, os dados do PIB mostram que tanto indústria quanto serviços -- setor que responde por cerca de 67% da economia do país -- cresceram 0,6%, indicando resiliência da economia. No caso de serviços, foi o terceiro trimestre seguido de ganhos.

Ainda do lado da produção, a maior retração frente aos três meses anteriores foi registrada pela agropecuária, de 3,3%, setor que havia crescido 12,5% e 0,5% nos primeiro e segundo trimestres. É a maior queda trimestral desde os três primeiros meses de 2022 (-10,8%).

“A agropecuária atingiu o seu maior patamar no trimestre passado e neste há a saída da safra da soja, a maior lavoura brasileira, que é concentrada no primeiro semestre", disse a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis. Ela ressaltou, no entanto, que no acumulado do ano a agropecuária ainda cresce 18,1%.

INVESTIMENTO ACELERA QUEDA

Do lado das despesas, os gastos das famílias aumentaram 1,1% em relação ao segundo trimestre, em meio à resiliência do mercado de trabalho, programas governamentais de transferência de renda, inflação mais baixa e crescimento do crédito.

“A inflação em queda tem ajudado o consumo das famílias, que está sendo muito prejudicado pelos juros que, ainda que em queda, estão altos”, disse Palis.

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Já as despesas do governo cresceram 0,5%. Tanto o consumo das famílias quanto do governo estão no nível mais alto da série, iniciado em 1996, de acordo com o IBGE.

Mas chama a atenção o desempenho da Formação Bruta de Capital Fixo, uma medida de investimento, que apresentou retração de 2,5% no terceiro trimestre, marcando quatro trimestres seguidos no vermelho. No trimestre anterior, o indicador havia caído 0,3%, após retração de 2,9% nos primeiros três meses do ano.

"A queda dos investimentos nos sinaliza um tipo de abertura que não se espera de uma economia forte. Olhando para frente, os números mais fortes não alteram o cenário de desaceleração da atividade econômica", disse o economista do PicPay Igor Cadilhac.

Em relação ao setor externo, as exportações de bens e serviços tiveram desempenho positivo de 3,0%, enquanto as importações recuaram 2,1%.

Depois de resultados fortes nos dois primeiros trimestres do ano, a economia brasileira sofreu entre julho e setembro o peso dos juros em patamar restritivo, que influencia tanto o ímpeto de crescimento da economia quanto a oferta de crédito e o ritmo da inflação, ainda que o Banco Central tenha dado início a um ciclo de afrouxamento monetário.

Desde agosto, o BC reduziu a Selic em um total de 1,5 ponto percentual, para os atuais 12,25%, e deve promover novo corte de 0,5 ponto em sua última reunião do ano, em 12 e 13 de dezembro, mas já indicou que a intenção é manter a taxa em nível restritivo.

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Incertezas no ambiente externo também pesam, principalmente com a perspectiva de manutenção dos juros norte-americanos em patamar alto por mais tempo e conflitos geopolíticos. Por outro lado, a inflação vem sendo considerada sob controle no Brasil, e o mercado de trabalho ainda se mantém forte, mas sem pressões salariais importantes.

No mês passado o governo revisou para baixo sua projeção para o crescimento econômico do Brasil em 2023 a 3,0%, de 3,2% previsto antes. Ao mesmo tempo, piorou ligeiramente a perspectiva de expansão para 2024, a 2,2%.

Nesta terça-feira, após o novo dado do PIB, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse esperar que O Brasil poderá crescer mais de 3% neste ano e 2,5% em 2024.

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