Vale prevê produção de minério de ferro quase estável em 2024 e crescimento adiante

Por Clara Denina e Marta Nogueira

LONDRES/RIO DE JANEIRO (Reuters) - A mineradora Vale prevê produzir entre 310 milhões e 320 milhões de toneladas de minério de ferro no próximo ano, ante aproximadamente 315 milhões de toneladas estimadas em 2023, enquanto trabalha para desenvolver um portfólio com mais valor e melhores prêmios, informou a companhia ao mercado nesta terça-feira.

A estimativa para o encerramento deste ano ficou no centro do intervalo de produção previsto para 2023, que era também de 310 milhões a 320 milhões de toneladas, representando um avanço de 2,3% ante as cerca de 308 milhões de toneladas de 2022.

As projeções ocorrem em meio a iniciativas da mineradora, uma das maiores produtoras globais de minério de ferro, para oferecer produtos de minério de ferro com maior valor agregado, com maiores prêmios, e soluções que permitam menos emissões e mais qualidade.

"Temos um compromisso de apresentar mais valor aos nossos negócios, aos nossos clientes, aos nossos acionistas e a nossa sociedade", afirmou o vice-presidente executivo de Soluções de Minério de Ferro, Marcello Spinelli, durante apresentação a analistas de mercado em Londres, em evento anual da companhia Vale Day.

"Gradualmente estamos melhorando a qualidade de nosso portfólio, podem ver isso ano a ano."

Apesar da meta praticamente estável para 2024, Spinelli apontou que a mineradora planeja expandir a produção de minério de ferro no médio e longo prazos e está no caminho certo para atingir o intervalo entre 340 milhões a 360 milhões de toneladas em 2026.

A empresa prevê ainda elevar em 50 milhões de toneladas a capacidade anual de produção de minério de ferro até 2026, considerando a entrada em operação de projetos em Vargem Grande e Capanema, em Minas Gerais, e expansão do S11D, no Pará, com baixa intensidade de capital.

Nesse cenário, a empresa prevê prêmio no minério de ferro de 8 a 12 dólares por tonelada em 2026, ante previsões de 3 a 4 dólares em 2024 e de 3 dólares em 2023.

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Ainda assim, as ações da Vale caíam mais quase 1% na tarde desta terça-feira, enquanto o índice de ações de referência do país, subia levemente.

Em nota a clientes, analistas do RBC Europe Limited afirmaram que o guidance para minério de ferro ficou no limite inferior de suas estimativas.

"Mas achamos que isso é mais em função da fraca demanda por produtos de maior qualidade do que potenciais problemas de capacidade", disseram os analistas.

Como suporte para a demanda, Spinelli disse que "a China é muito mais resiliente do que esperamos".

Spinelli destacou que a estratégia da companhia busca soluções de minério de ferro centradas no cliente. Nessa linha, a empresa está reposicionando seu portfólio para capturar maiores prêmios, participando do desenvolvimento de complexos industriais (mega hubs) para a fabricação de produtos de minério com maior valor agregado e menores emissões, além de investir no crescimento da produção da commodity de alta qualidade, em aglomerados e também na concentração.

Para pelotas e briquetes de minério de ferro, a empresa prevê atingir produção de 38 milhões a 42 milhões de toneladas 2024, ante cerca de 37 milhões previstas para 2023. A fabricação continuará em crescimento, segundo a empresa, atingindo intervalo entre 50 milhões e 55 milhões de toneladas em 2026 e em torno de 100 milhões de toneladas de 2030 em diante.

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Os analistas do Itaú BBA liderados por Daniel Sasson disseram que as perspectivas de produção estão em linha com as suas expectativas, mas observaram que alguns investidores podem ficar desapontados com a falta de melhoria nos custos.

A empresa prevê reduzir o custo caixa C1 de finos de minério de ferro (custo de produção da mina ao porto) excluindo compras de terceiros para abaixo de 20 dólares por tonelada em 2026, ante cerca de 22,5 dólares por tonelada estimados para 2023.

INVESTIMENTO

No documento, a mineradora também previu investimentos de cerca de 6,5 bilhões de dólares em 2024, assim como nos próximos anos, montante acima dos cerca de 6 bilhões de dólares previstos para este ano.

Os compromissos com os desastres com barragens de mineração nas cidades mineiras de Brumadinho e Mariana vão somar em 2023 2,9 bilhões de dólares, subindo a 3 bilhões de dólares em 2024 e também em 2025, para depois cair para 1,9 bilhão em 2026 e 1,3 bilhão em 2027.

O presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo, afirmou durante o evento que quer deixar como legado uma companhia com mais segurança e citou diversas iniciativas nessa linha. Além disso, afirmou que a empresa quer assinar acordo de reparação sobre rompimento de barragem da Samarco em Mariana, ocorrido em 2015, em termos similares ao alcançado em Brumadinho.

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METAIS DA TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

No caso dos metais básicos, a Vale estimou produção de 165 mil toneladas de níquel em 2023, ante meta de 160-175 mil toneladas para o ano. Para 2024, a companhia estimou intervalo também entre 160 mil e 175 mil toneladas.

Já para o cobre, a mineradora estimou produção de 325 mil toneladas em 2023, ante meta de 315-325 mil toneladas para o ano, enquanto para 2024 prevê intervalo entre 320 mil e 355 mil toneladas em 2024.

Recentemente, a companhia realizou um spin off de sua unidade de metais básicos, em iniciativa que visa trazer mais ferramentas para destravar valor de seus ativos.

A companhia tem boas perspectivas para o crescimento da demanda por esses metais para a fabricação de baterias para carros elétricos, enquanto o mundo busca formas de eletrificar os transportes, rumo à transição energética.

Segundo analistas do RBC, as metas de produção para metais básicos ficaram "bem abaixo" de suas projeções e do consenso de analistas e "sugerem que a tão esperada recuperação ainda demorará um pouco mais".

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(Por Clara Denina em Londres e Marta Nogueira no Rio de Janeiro, com reportagem adicional de Gabriel Araujo em São Paulo)

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