Transportes pesam e volume de serviços no Brasil cai em outubro pelo 3º mês seguido

Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier

SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - O volume de serviços no Brasil registrou queda inesperada em outubro, marcando o terceiro mês seguido no vermelho, impactado pelas perdas em transportes e serviços prestados às famílias.

Na comparação com o mês anterior, o setor de serviços registrou em outubro recuo de 0,6%, frustrando a expectativa em pesquisa da Reuters de estabilidade.

Com esse resultado, divulgado nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o setor acumula perdas de 2,3% em três meses e elimina o ganho da mesma magnitude visto entre maio e julho.

"O setor de serviços não tinha três quedas seguidas desde março a maio de 2020", destacou o analista da pesquisa, Luiz Almeida. "(Mas) três quedas não mostram ainda uma mudança de trajetória. O que dá para dizer é que o setor está sem tendência definida."

Os dados mostraram ainda que o volume de serviços teve recuo de 0,4% em relação ao mesmo mês do ano anterior, contra expectativa de alta de 0,4%.

Agora, o setor encontra-se 10,2% acima do nível de fevereiro de 2020 (pré-pandemia) e 3,2% abaixo de dezembro de 2022, quando marcou o ponto mais alto da série histórica.

O setor de serviços teve altos e baixos ao longo do ano, ora mostrando resiliência em meio a um mercado de trabalho aquecido, ora recuando no que é atribuído ao impacto dos juros elevados, que inibe o consumo.

A taxa básica Selic está em 12,25% ao ano e o Banco Central anuncia nesta quarta-feira sua última decisão de política monetária do ano, com expectativa de novo corte de 0,5 ponto percentual, o que ainda deixaria os juros em nível elevado.

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"É importante reconhecer que a intensidade da desaceleração de um setor importante da atividade econômica, o de maior peso e cuja dinâmica tende a ser mais inercial, tem sido maior que o esperado, disse Igor Cadilhac, do PicPay, que projeta avanço de 2,3% para serviços em 2023.

Os dados do IBGE mostram que em outubro o maior impacto sobre o resultado geral foi exercido pela queda de 2,0% em transportes, setor que acumula perda de 4,3% no período entre agosto e outubro.

O volume de transporte de cargas registrou retração de 2,3%, enquanto o de passageiros teve alta de 0,7% na comparação com o mês anterior.

“Essa queda nos transportes ... foi muito influenciada pela queda no transporte de cargas, principalmente no transporte rodoviário de cargas", Almeida, atrelando o resultado à expectativa menor da próxima safra agrícola.

"A produção industrial também vem demonstrando menor dinamismo, com uma queda nos bens de consumo e bens de capital, que impactam também no setor de transporte de cargas", completou.

Já os serviços prestados às famílias recuaram 2,1% e eliminaram quase todo o ganho de 2,5% visto em setembro. Segundo Almeida, esse resultado já era esperado uma vez que o aumento de setembro se deveu à realização de festival de música em São Paulo, e não houve continuidade dos ganhos.

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Outras duas atividades apresentaram ganhos --serviços profissionais, administrativos, complementares (+1,0%) e serviços de informação e comunicação (+0,3%). Completando as cinco atividades pesquisadas, outros serviços apontou estabilidade em outubro

"O que vinha carregando os serviços, como cargas e tecnologia de informação, não está com o mesmo fôlego e dinamismo de antes. O arrefecimento deles ... afeta o desempenho geral", disse Almeida.

O índice de atividades turísticas, por sua vez, teve retração de 1,1% frente a setembro, quando registrou expansão de 1,5%. Com isso, o segmento de turismo está 5,0% acima do patamar de fevereiro de 2020 e 2,4% abaixo do ponto mais alto da série, alcançado em fevereiro de 2014.

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