Taxas futuras de juros têm leve alta sob influência dos Treasuries e de Campos Neto

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - A virada dos rendimentos dos títulos norte-americanos de dez anos do negativo para o positivo, durante a tarde, favoreceu a leve alta das taxas dos DIs nesta quinta-feira no Brasil, com investidores ponderando ainda as novas projeções econômicas do Banco Central e as declarações do presidente da instituição, Roberto Campos Neto, sobre a ponta longa da curva a termo.

Pela manhã, os yields do Treasury de dez anos -- referência global de investimentos -- recuavam, em mais um dia de apostas de que o Federal Reserve caminha para cortar juros em março de 2024. Alguns números sobre a economia dos EUA, divulgados na primeira metade do dia, corroboravam esta expectativa.

O Departamento do Trabalho dos EUA informou que o elemento de gastos do consumidor do Produto Interno Bruto do terceiro trimestre foi revisado para baixo, de 3,6% para 3,1%, enquanto o crescimento geral do PIB sofreu ajuste de 5,2% para 4,9%.

Apesar da queda dos yields, as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) no Brasil oscilavam em margens bastante estreitas, muito próximas da estabilidade, sem que as novas projeções econômicas do BC, divulgadas pela manhã no Relatório de Inflação, alterasse a curva de forma consistente.

Entre os destaques do relatório, o BC elevou de 2,9% para 3,0% a projeção de alta para o PIB em 2023, mas reduziu de 1,8% para 1,7% a projeção de avanço em 2024. O documento também trouxe uma forte revisão, para melhor, da chance de a inflação estourar o teto da meta neste ano, com o BC passando a projetar que a probabilidade de o IPCA superar o limite superior de 4,75% da banda de tolerância está em 17%, contra 67% estimados em setembro.

Na entrevista coletiva para apresentar os números, Campos Neto voltou a indicar que eventual piora da área fiscal do governo não pressupõe uma reação mecânica da política monetária. Segundo ele, se o fiscal "for um pouquinho pior", mas o governo seguir realizando reformas econômicas, com o entendimento do mercado, esta piora não seria "tão relevante".

Além disso, ele reiterou que o BC trabalha com a perspectiva de mais dois cortes de 0,50 ponto percentual da taxa básica Selic, nos encontros de janeiro e março do Comitê de Política Monetária (Copom). Atualmente, a Selic está em 11,75% ao ano.

O presidente do BC também pontuou que as taxas dos contratos futuros de juros com prazos mais longos "caíram bastante", o que é relevante para o investimento produtivo no Brasil.

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“Se a gente olhar os juros de (janeiro de) 2027, o fechamento de ontem (quarta-feira), foi 9,68%. Ou seja, os juros longos já caíram bastante", disse Campos Neto. "A última vez que este mesmo juro estava em 9,68%, se não me engano a Selic estava entre 8,50% e 9%. Então, este juro, que é relevante para o investimento, demonstrou uma queda compatível com um tempo atrás, quando a Selic estava bem mais baixa que está hoje.”

Os comentários de Campos Neto sobre o título para janeiro de 2027 deram força às taxas entre o fim da manhã e o início da tarde, mas posteriormente os prêmios voltaram a exibir leves altas.

Nos EUA, os rendimentos do Treasury de dez anos migraram para o positivo no meio da tarde, o que deu novo impulso às taxas dos DIs no Brasil. No fechamento, porém, as taxas futuras exibiam novamente altas modestas.

No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,06%, ante 10,055% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 9,61%, ante 9,597% do ajuste anterior. A taxa para janeiro de 2027 estava em 9,71%, ante 9,682%.

Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2028 estava em 9,945%, ante 9,917%. O contrato para janeiro de 2031 marcava 10,32%, ante 10,315%.

Perto do fechamento a curva a termo precificava 100% de chances de o corte da taxa básica Selic em janeiro ser de 0,50 ponto percentual, como vem sinalizando o BC e foi reiterado nesta quinta-feira por Campos Neto. As chances de corte de 0,75 ponto percentual estavam em zero.

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No Brasil, os investidores também seguiram monitorando as negociações em torno do Orçamento federal para 2024. Durante a tarde, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que a Lei Orçamentária Anual (LOA) 2024 deve ser votada ainda nesta quinta-feira, tanto na Comissão Mista de Orçamento (CMO) quanto em sessão conjunta do Congresso Nacional.

Às 16:39 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- subia 1,10 ponto-base, a 3,8881%.

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