Dólar perde fôlego após superar R$5; riscos fiscais e perspectiva de juros nos EUA seguem no radar

Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar passou a cair depois de mais cedo ter superado a marca psicológica de 5 reais, com investidores monitorando com maior pessimismo a perspectiva fiscal do Brasil, de olho ainda nas expectativas sobre cortes de juros nos Estados Unidos.

Às 10:00 (horário de Brasília), o dólar à vista recuava 0,51%, a 4,9626 reais na venda, depois de mais cedo ter chegado a avançar 0,30%, a 5,0030 reais na venda, superando os 5,00 pela primeira vez desde 1° de novembro do ano passado.

Na B3, às 10:00 (horário de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,56%, a 4,9675 reais.

Segundo participantes do mercado, a superação do patamar de 5 reais mais cedo --nível técnico importante-- pode ter chamado vendas por parte de agentes exportadores, levando a ajuste para baixo no dólar.

Além disso, dando suporte aos ativos brasileiros, os contratos futuros de minério de ferro subiram nesta terça-feira, atingindo o nível mais alto em mais de uma semana, depois que autoridades da China prometeram estabilizar seus mercados.

O ambiente mais amplo, no entanto, era de cautela.

Na véspera, a moeda norte-americana fechou em 4,9878 reais na venda, alta de 1,23%, depois que o plano de desenvolvimento do governo Lula para a indústria brasileira, que prevê 300 bilhões de reais em financiamentos até 2026, foi visto pelo mercado como um fator de risco para o equilíbrio fiscal.

"Isso fez com que o mercado encarasse esse plano como outros planos que aconteceram em governos anteriores, que geraram mais despesas e não tiveram o retorno esperado na melhora da atividade", disse à Reuters Rafael Meyer, gestor da Solutions MFO.

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O governo tem como meta zerar o déficit primário este ano, mas tenta alcançar esse objetivo via aumento da arrecadação em vez de cortes de despesas, e tem enfrentado resistências no Congresso a projetos importantes, como a tentativa de reonerar gradualmente a folha de pagamento.

Depois de um 2023 amplamente positivo para o real, com queda de mais de 8% do dólar no período, o início do novo ano tem se mostrado difícil para o mercado de câmbio doméstico, em grande parte devido ao surgimento de dúvidas no mercado sobre quando o Federal Reserve poderá começar a cortar os juros.

"Houve algumas mudanças no começo deste ano referente a dados de inflação que vieram acima da expectativa do mercado, dados como o 'payroll' (relatório de criação de empregos dos EUA) que ainda surpreenderam para cima, mudando a visão por parte dos investidores de que os juros poderiam ser cortados em março", disse Meyer.

As expectativas dos operadores de um corte pelo Fed agora estão concentradas em maio, com uma probabilidade de 84% de redução de pelo menos 0,25 ponto percentual, de acordo com a ferramenta FedWatch do CME Group.

Quanto mais baixos os juros nos EUA, menos atraente fica o dólar em comparação com pares emergentes, que apesar de mais arriscados, oferecem rendimentos mais altos.

Nesse contexto, até agora em janeiro a moeda norte-americana salta cerca de 2% frente ao real, com pouca perspectiva de devolver esses ganhos até o final do mês. Isso contrasta bastante com o movimento visto em janeiro de 2023, quando o dólar havia caído quase 4% frente ao real, e no primeiro mês de 2022, quando havia perdido perto de 5%.

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