Fed diz que é preciso mais "confiança" em relação à inflação para iniciar os cortes nos juros

Por Howard Schneider e Lindsay Dunsmuir

(Reuters) - O Federal Reserve deixou a taxa básica de juros inalterada nesta quarta-feira, mas deu um passo importante para reduzi-la nos meses à frente em uma declaração de política monetária que contrabalançou preocupações com a inflação com outros riscos para a economia norte-americana e retirou uma referência de longa data a possíveis novos aumentos nos custos de empréstimos.

A mais recente declaração de política monetária do banco central dos Estados Unidos não deu qualquer indício de que um corte nos juros é iminente e afirmou que o Comitê Federal de Mercado Aberto, que define a política monetária, "não espera que seja apropriado reduzir a faixa de juros até que tenha adquirido maior confiança de que a inflação está se movendo de forma sustentável em direção a 2%", a meta de inflação do Fed.

"A inflação diminuiu no último ano, mas continua elevada", disse o Fed no comunicado após uma reunião de dois dias, reafirmando que as autoridades "continuam muito atentas aos riscos da inflação".

Falando após a reunião do Comitê em uma coletiva de imprensa, o chair do Fed, Jerome Powell, advertiu que a luta do banco central para reduzir a inflação não acabou e destacou que "não estamos declarando vitória, achamos que ainda temos um caminho a percorrer".

Powell disse mais tarde não achar que as autoridades monetárias terão acumulado a confiança necessária a tempo de reduzir as taxas na próxima reunião do Fed, em março.

“Não creio que seja provável que o comitê atinjirá um nível de confiança no momento da reunião de março” para reduzir as taxas, “mas isso está para ser visto”, disse Powell, acrescentando que um corte em março não é o cenário básico das autoridades.

A meta de taxa de juros do Fed está "provavelmente em seu pico para este ciclo de aperto monetário" e o Fed provavelmente cortará os juros "em algum momento deste ano", afirmou Powell, acrescentando que ainda levará algum tempo para ver se os dados apoiam uma flexibilização da política monetária.

A linguagem usada pelo Comitê e os comentários de Powell foram um golpe para investidores que esperavam que os cortes nos juros começassem já em março. A taxa de juros de referência "overnight" do Fed está na faixa de 5,25% a 5,50% desde julho passado.

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As ações dos EUA recuavam após a divulgação do comunicado, enquanto o dólar subia em relação a uma cesta de moedas. Os rendimentos dos Treasuries também caíam.

Mas o Fed também acenou para as preocupações com o lado do emprego de seu mandato e abriu a porta para a redução da taxa básica se a inflação, como esperado, continuar a cair nos próximos meses.

Os riscos para o cumprimento das metas de emprego e de inflação "estão se equilibrando melhor", disse o Fed, encerrando cerca de dois anos em que o viés do banco central tem sido no sentido de aumentar os custos de empréstimos e os riscos vistos como inclinados para aqueles representados pela escalada dos preços.

"Ao considerar quaisquer ajustes na faixa da taxa de juros, o Comitê avaliará cuidadosamente os dados que estão chegando, a evolução das perspectivas e o equilíbrio dos riscos", disse o Comitê.

A declaração anterior do Fed, emitida em 13 de dezembro, havia estabelecido as condições sob as quais o Fed consideraria "qualquer fortalecimento adicional da política monetária", uma linguagem que excluía qualquer consideração de cortes nos juros.

SEM REFERÊNCIA AO SISTEMA BANCÁRIO

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A declaração do Fed não fez referência à saúde do sistema bancário pela primeira vez desde que foi forçado a reforçá-lo no ano passado, após uma série de falências de bancos regionais. Também eliminou a referência a condições financeiras e de crédito mais restritivas, que poderão pesar sobre a atividade econômica, contratações e a inflação.

Embora a declaração não tenha orientado os investidores e o público sobre o momento e o ritmo dos próximos cortes nos juros, ela marcou a taxa básica atual como o pico de um ciclo agressivo de aperto monetário que começou em março de 2022, quando as pressões sobre os preços estavam aumentando. A inflação atingiu um pico de 40 anos vários meses depois.

A inflação está abaixo da meta do Fed há sete meses, enquanto o crescimento econômico e o mercado de trabalho dos EUA permanecem praticamente intactos.

A atividade econômica "tem se expandido em um ritmo sólido", disse o Fed nesta quarta-feira. Os ganhos com empregos "continuam fortes e a taxa de desemprego permaneceu baixa".

As autoridades do Fed não emitiram novas projeções econômicas em sua reunião desta semana. Na reunião de 12 e 13 de dezembro, os formuladores de política monetária previam cortar a taxa de juros em 75 pontos-base ao longo deste ano, mas relutaram em se comprometer com uma data de início até que houvesse mais dados mostrando que a inflação segue sua trajetória de queda.

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